Registro - Renda agrícola terá queda, mas inferior ao estimado pelo Mapa
Data:
12/05/2009
A renda agrícola brasileira será R$ 155,996 bilhões este ano, conforme projeção divulgada ontem pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). É uma queda de 3,2% na comparação com os R$ 161,156 bilhões registrados em 2008, o que significa uma redução na receita bruta dos produtores de R$ 5,16 bilhões em um ano. A cifra, no entanto, não representa uma notícia totalmente ruim. Um mês antes, o próprio ministério calculava uma retração de 8,2% no faturamento bruto do campo em 2009, ou seja, agora há perspectivas bem mais otimistas.
Uma queda seria inevitável, afinal a produção de grãos será reduzida em 5,2% em 2009, para 136,6 milhões de toneladas. Segundo o coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques, a recuperação de preços está sendo decisiva para fazer a renda cair agrícola cair menos (- 3,2%) do que a oferta de grãos (-5,2%).
Para a mandioca, a renda total salta de R$ 5 bilhões, em 2008; para R$ 5,7 bilhões, este ano, alta de 14,38%. Segundo explicou Gasques, o preço da tonelada de mandioca em dezembro era de R$ 204 por tonelada, subindo para R$ 218 por tonelada, em março. Já o preço da soja subiu de R$ 41,40 pela saca de 60 quilos, em dezembro; para R$ 43,80, em março. Os preços vigentes em março foram utilizados no cálculo da projeção de renda agrícola divulgada ontem. O faturamento de quase R$ 156 bilhões projetada para este ano perderá para o resultado do ano passado, mas ainda assim será o melhor resultado de toda a série da pesquisa, iniciada em 1997. Em 2007, por exemplo, o faturamento dos 20 principais produtos somou R$ 140,6 bilhões, cerca de 10% menos do que será registrado em 2009.
Por regiões, quem mais perde é o Centro-Oeste, com retração da renda em 10,33%, ou seja, de R$ 38,914 bilhões, em 2008; para R$ 34,894 bilhões, este ano. Gasques avalia que o Centro-Oeste foi a região que mais sofreu com enxugamento de crédito, principalmente pela retração das tradings, e agora perde em renda. Por produtos, a pesquisa divulgada ontem indica elevação da expectativa de renda para nove itens, com destaque para uva (218,5%); amendoim (21,17%), arroz (21,1%) cacau (19,7%) e cana-de-açúcar (5,9%). Em sentido contrário, há previsão de perda de renda para os 11 demais produtos, com destaque para milho (-26,4%), algodão (-22,8%); trigo (-19,3%), café (-14,4%)
e cebola (-13,5%).
"O trigo também está mostrando recuperação de preços", disse o coordenador do Mapa. Gasques explica que a projeção de renda já incorporou as perdas ocasionadas pela estiagem na região Sul, o que levou à uma redução de 500 mil toneladas na oferta de soja gaúcha e de 600 mil toneladas de milho paranaense, conforme anunciado na semana passada pela COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Houve um forte salto no faturamento do setor de uva, de R$ 1 bilhão, em 2008; para R$ 3,5 bilhões, em 2009. Segundo Gasques, foi considerado preço médio de R$ 0,70 por quilo, em dezembro; para R$ 2,63 por quilo, em março. O Mapa não soube explicar o motivo de tamanha elevação de preço.
Na elaboração do volume de renda, o Ministério considera preços de negociação e quantidades colhidas. Segundo o coordenador, os valores de venda e projeção de renda para 2009 sinalizam incentivo para o plantio da safra 2009/2010, mas alerta: "Acho que a próxima safra vai depender muito da questão de crédito".
Fábio Silveira, da RC Consultores, avalia que a nova estimativa oficial de renda para os principais produtos agrícolas está dentro do intervalo possível de realização. As projeções da RC Consultores, inclusive, é até mais otimista, estabelecendo manutenção de renda em relação a 2008. "Mas é preciso tomar cuidado com a reconstituição da bolha de preços, como houve no ano passado. A recuperação de preços das commodities pode não se sustentar", diz Silveira. A assessora técnica da CNA Rosemeire do Santos também admite que o resultado projetado para a receita agrícola de 2009 é muito melhor do que era possível esperar no final do ano passado. "Uma queda já era previsível, pela diminuição da safra de grãos", disse, avaliando que o atual câmbio ainda ajuda a manter a renda no campo.