Milho - Biotecnologia moderniza lavouras de milharais
Data:
20/05/2009
O produtor rural paulista descobre, aos poucos, as vantagens do milho transgênico. Quem recorre às sementes geneticamente modificadas tem a lavoura protegida de insetos como a broca-do-colmo, a lagarta-do-cartucho e lagarta-da-espiga, que comprometem até 30% da safra convencional. O irônico é que a inovadora tecnologia YeldGard foi desenvolvida pela Monsanto há mais de uma década. Por conta da oposição histórica de políticos e ambientalistas, a biotecnologia demorou a emplacar no Brasil. Só agora o agricultor tem acesso à certificação científica, conferida por institutos internacionais de pesquisa, de que o milho transgênico não provoca danos à saúde.
Em nações do Primeiro Mundo, as sementes geneticamente modificadas têm ampla aceitação dos agricultores. A Espanha, por exemplo, tem produção anual de 4 milhões de toneladas de milho, e só 3% são representados pelos grãos convencionais. No Brasil, no entanto, ainda há muito que avançar. De acordo com o engenheiro agrônomo Luís Gustavo de Oliveira, da Monsanto, a região de Bragança Paulista, por exemplo, tem 15 mil hectares tomados por milharais. Só 3 mil hectares (um quinto do total) contam com a tecnologia.
Quem optou pela YeldGard, no entanto, teve ganhos significativos na safra. O gerente de biotecnologia Odinei Fernandes explica como é feita a modificação genética da semente. O Bacilluys thuringielsis (Bt) é uma bactéria encontrada no solo, que produz uma proteína capaz de destruir o sistema digestivo das lagartas que atacam o milho. Os pesquisadores da Monsanto isolaram o gene e desenvolveram em laboratório a nova semente. Quando ingere a folha do milho, a lagarta morre. "O consumidor não precisa se alarmar: testes com os animais que se alimentaram do milho transgênicos provaram que a bactéria não ficou nos ovos ou na carne", diz.
De acordo com Fernandes, tudo que a Monsanto fez foi buscar, na própria natureza, um pesticida natural. O próprio Bt, diz, vinha já vem sendo usado como pesticida em diversas culturas, há mais de 40 anos. "As plantas transgênicas são aquelas que recebem genes de outra espécie, o que não é possível com o melhoramento genético clássico. Dessa forma, é possível criar plantas com características adicionais, sem a perda das características originais", explica.
As vantagens da tecnologia são inúmeras. O milho trans, garante, é até mais saudável que o convencional. O produtor, por exemplo, não precisa fazer aplicações de agrotóxicos na lavoura. O trabalhador fica menos exposto aos inseticidas. Diminuem as entradas de máquina, gasta-se menos combustível e emite-se menos gás carbônico. Como as lagartas morrem, a safra não tem quebra. O agricultor ainda guarda o dinheiro que gastaria para com a contratação de mão de obra para aplicar defensivos e diminui os custos de transporte e o armazenamento de defensivos. A lavoura geneticamente modificada, enfim, não produz mais. Ela simplesmente perde menos. O produtor corta gastos e lucra.
Sebastião Francisco, administrador da Fazenda Pantaleão (do poderoso Grupo Saad), afirma que um terço da safra de milho era perdida, por conta da ação de lagartas que destruíam as folhas e prejudicavam o transporte de nutrientes desde o solo. O cartucho furado pela larva fazia com que a umidade entrasse na espiga e estragasse os grãos. Depois de atacado, o milho não tinha salvação.
Ele admite que o custo da safra cresceu pelo menos 10% com a tecnologia YeldGard. Mas, na ponta do lápis, compensou o investimento. Pelo menos 90 sacas de cada alqueire cultivado deixaram de ser perdidas.
Uso de variedade salva safra de produtor
Um dos tradicionais produtores de grãos da região de Bragança Paulista, Valcírio Hasckel, já cultiva sementes transgênicas do milho em 100 dos 450 hectares da Fazenda Rosária. Ele viu o preço de produção da saca subir para R$ 20,50. E cada saca vendida rende hoje R$ 21,50 à propriedade. Ou seja, o lucro é inexpressivo. Arrecada-se praticamente o que se gastou para produzir. Mas o milho trans, na prática, o salva agora da derrocada. É que antes, com a lavoura convencional, ele gastava para preparar as sementes antes do cultivo e fazer três aplicações aéreas posteriores contra as larvas. "Considerando a alta descontrolada dos fertilizantes, que dobrou de preço de uma safra para outra, na certa estaríamos no prejuízo, caso a perda provocada pelas larvas fosse tão grande", fala. "A Tecnologia YeldGard nos livra de gastos e equilibra o caixa." Foi uma alternativa que, por sinal, ajudou a transformar toda a agricultura local. Antes, a pecuária leiteira tomava toda a bacia. O milho passou a ser uma alternativa mais rentável. Os números ainda são modestos. Mas os especialistas da Monsanto sabem que os milharais brasileiros já tomaram um rumo sem volta: Dos 5 milhões de hectares cultivados para a safra brasileira de Verão, 9% usaram as sementes geneticamente modificadas. O uso da biotecnologia é imprescindível para aumentar a produção de alimentos e matar a fome do mundo, que, pelas estimativas das Nações Unidas, deve ter 9,3 bilhões de habitantes no ano 2050. (RV/AAN)
OS NÚMEROS
21,2 MI DE HECTARES São cultivados, no mundo todo, com as sementes geneticamente modificadas do milho, o que equivale a 24% de todas as roças transgênicas do planeta.
8,5 MI DE AGRICULTORES Adotaram as sementes transgênicas em 21 países ao redor do mundo, segundo o International Service for the Acquisiton of Agri-Biotech Applications