Mesmo com o risco da falta do cereal, setor insiste na manutenção do imposto de importação Os produtores de trigo brasileiros estão dispostos a manter a reserva de mercado, apesar da expectativas de possibilidade de falta do cereal para o País nos próximos meses. ‘‘Vamos brigar até o último cartucho para que, se houver necessidade de importação de trigo, que seja com a TEC (imposto de importação denominado Tarifa Externa Comum)’’, defendeu o esta semana o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno, Rui Polidoro Pinto.
Diante da hipótese de falta de produto até o início da safra doméstica (a colheita deve começar em agosto ou setembro), o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, sinalizou que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) poderia reduzir o imposto do cereal comprado de países fora do Mercosul já na próxima reunião, prevista para ocorrer ao final deste mês ou início do próximo. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, descartou a hipótese para o curto prazo, afirmando que, cabe ao ministério propor o assunto. De acordo com ele, se houver necessidade de compra de trigo de países de fora do Mercosul, a TEC só deverá sofrer alteração mais para frente, a partir de julho.
A postergação da medida por parte do Ministério tem como objetivo a manutenção dos preços para os produtores nacionais. No ano passado, quando a Argentina já havia reduzido suas exportações do cereal, o governo brasileiro permitiu que 2 milhões de toneladas de grãos trazidas de fora do Mercosul ficassem isentas de tributo. A medida acabou influenciando os preços e diminuindo o incentivo à produção nacional, que é o que o governo quer evitar em 2009.
‘‘Temos alguns problemas já de desestímulo à plantação, como a seca e o preço mínimo adotado para o trigo abaixo das nossas expectativas’’, citou Polidoro Pinto. De acordo com ele, o setor reivindicava um incremento de 20% para o preço mínimo do trigo este ano na comparação com 2008, mas o governo concedeu reajuste de 10% para o cereal usado na produção de pães e de 5,40% para os demais tipos de trigo.
O presidente da Câmara Setorial admitiu que o total produzido hoje não será suficiente para atender à demanda doméstica pelo produto. De acordo com o Ministério, a demanda brasileira é de aproximadamente 11 milhões de toneladas por ano, enquanto a projeção da safra doméstica 2009/2010 está em 6,5 milhões de toneladas. ‘‘Para o pleno abastecimento, irá faltar produto brasileiro. De quem o Brasil vai comprar, não sei. Espero que seja da Argentina’’, disse Polidoro Pinto. Na avaliação do presidente da Câmara, o anúncio feito pelo país vizinho, de que não entregará cereal ao Brasil em 2010, nada mais é do que ‘‘um blefe’’. ‘‘A Argentina exportará para o Brasil. Eles sempre blefam’’, minimizou
Ele também afastou a possibilidade de alta do preço do pãozinho por conta de uma possível falta de produto. ‘‘Vamos plantar, a Argentina vai exportar e o preço pode até baixar’’, disse. De acordo com ele, a área plantada de trigo hoje é de 2,3 milhões de hectares no País e o volume de estoque no Paraná e Rio Grande do Sul é de aproximadamente 1 milhão de toneladas. O ministro Stephanes informou recentemente, que o setor privado possui 3 milhões de toneladas estocadas do cereal, o que seria suficiente para o consumo brasileiro até agosto, quando deve ser iniciada a colheita da safra doméstica.