Paraná deve produzir perto de 3,3 milhões de toneladas, volume alcançado uma única vez, há mais de 20 anos.
O plantio confirmou a expansão do trigo no Paraná. Com 90% das lavouras semeadas, o Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná informa que o cereal vai ocupar 1,23 milhão de hectares – área 7% maior que a do ano passado. “Se houver mais alguma variação, será mínima. A área pode chegar a 1,3 milhão de hectares”, aponta o agrônomo Otmar Hübner, que coordena o monitoramento do trigo no Deral.
Isso significa que o trigo voltou ao tempo dos recordes. Com clima favorável, a produção deve chegar perto da registrada em 1987/88, quando o estado atingiu 3,3 milhões de toneladas e o Brasil, 6,1 milhões. Naquela época, o Paraná plantava 600 mil hectares a mais, mas tinha rendimento menor. Com essa área (1,9 milhão) e a produtividade média de 2,65 toneladas por hectare, prevista para a safra atual, o estado chegaria a 5 milhões de toneladas – meta do governo paranaense.
Dois meses atrás, o Caminhos do Campo/Gazeta do Povo estimou que haveria uma elevação de até 9% na área do trigo, com base nos planos de cultivo de oito cooperativas do estado. Campos Gerais, Norte, Noroeste e Oeste anteciparam a tendência de aumento na produção, que se confirma agora nos dados do Deral.
“O aumento da área é de perto de 10%. Isso porque o custo de produção caiu 20%, de R$ 1,2 para R$ 1 mil por hectare, e o preço mínimo aumentou”, avalia Ivo Arnt, tradicional produtor de trigo dos Campos Gerais. Os reajustes nos preços mínimos foram de 5,5% (brando) a 15% (melhorador), com teto de R$ 555 por tonelada. Arnt acrescenta que o cereal é fundamental na rotação de culturas, aumentando a produtividade da soja no verão.
“O mercado é que faz aumentar o plantio”, afirma Hübner. Em sua avaliação, apesar de estarem abaixo das expectativas, os preços são considerados bons. Além disso, não há muita opção de cultivo no inverno, acrescenta. “O fato de a produtividade do trigo ter sido ótima no ano passado (2,83 t/ha) também influenciou o produtor, que teve quebra na safra de verão (20%)”, observa.
Com 3,3 milhões de toneladas de trigo, o Paraná pode elevar sua participação nacional, hoje em 53%. Ainda assim, o país terá de importar pelo menos um terço das 11 milhões que consome, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O problema da próxima safra deve ser a comercialização, lenta mesmo em ano de produção baixa. Como a tendência é de queda nos preços no momento do escoamento, será necessário armazenar boa parte do cereal. Por falta de espaço, as vendas têm de ser acertadas antes da colheita do verão.
A comercialização da safra passada ainda não terminou. Segundo o Deral, 8% do trigo paranaense ainda estão guardados. O atraso é atribuído justamente aos preços baixos. A saca de 60 quilos rende em média R$ 27,90 ao produtor – são R$ 12 a menos que há um ano. Os preços estão entre R$ 26,8 e R$ 29 desde janeiro. A média deste ano é R$ 5/sc inferior à de 2008.
O problema não é o preço internacional, que está em US$ 200 a tonelada e supera com folga a média histórica de US$ 125. A valorização do real frente ao dólar faz com que o preço interno do trigo caia. Se depender dos estoques, a cotação em dólar deve se manter. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima estoques mundiais de 940 milhões de toneladas para 2009/10, 10 milhões maior que o do período anterior. No entanto, a Argentina, principal fornecedor de trigo para o Brasil, deve ter queda no plantio, de 4,5 milhões de hectares (2008) para 2,8 milhões (2009), conforme relatório oficial divulgado nesta semana.
José Rocher
Mais área e tecnologia Campo Mourão - Depois de ficar por quase 19 anos sem plantar trigo na sua propriedade em Campo Mourão (Noroeste), o agricultor Gabriel Jort resolveu voltar a investir na cultura no ano passado, em 48 hectares. “O resultado de 49,5 sacas por hectare surpreendeu e, esse ano, para não arriscar na safrinha de soja por conta das doenças, aumentei a lavoura de trigo”, diz Jort, que por conta dos incentivos dobrou a área da cultura para 96,8 hectares. “O fato de ter o seguro já é uma garantia. Espero colher a mesma média do ano passado ou mais”, prevê Jort, que investiu pesado na adubação. “Usei 600 quilos de adubo, 250 quilos de cloreto de potássio e tratei a semente. Espero ter uma colheita boa.”
Já o agricultor de Mamborê Joel Amadeu Soares, que no ano passado plantou apenas 12,1 hectares de trigo e colheu uma média de 53,3 sacas, nesse ano investiu mais e reservou uma boa parte da propriedade de 36,3 hectares para o cereal. “O incentivo do seguro e os comentários sobre o preço incentivaram a aumentar a área para 29 hectares. A esperança é que o preço pago pela saca aumente”, espera Soares.
Já o agricultor João Mignoso, por não acreditar no preço mínimo e não precisar do seguro do governo, decidiu permanecer com a mesma área de trigo do ano passado. “Plantamos 75 hectares e esse ano não investimos mais em área. A tendência é de diminuir o plantio por conta do alto risco e da margem de lucro pequena. Estamos na cultura por teimosia. Eles falam em preço mínimo, mas isso não existe”, critica Mignoso, que no ano passado colheu uma média de 61,9 sacas de trigo por hectare.