Medida em gestação no governo federal será criada com a promessa de facilitar o acesso de produtores rurais ao créditoAs repetidas queixas dos agricultores a cada safra quanto às dificuldades de acessar o crédito podem estar perto do fim. A solução deve surgir a partir da criação do fundo garantidor de crédito para o setor rural, iniciativa aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Funcionaria como um avalista junto aos bancos para casos de produtores classificados nos níveis mais alto de risco devido a problemas de garantias e limites. O fundo asseguraria o pagamento à instituição financeira na hipótese de inadimplência – depois, o banco executaria o agricultor e o recurso voltaria ao fundo. Com esta segurança, as instituições seriam menos restritivos no momento de liberar os recursos.
Conforme o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o fundo deverá ter entre R$ 7 bilhões e R$ 10 bilhões e irá operar, em um primeiro momento, apenas para investimento em máquinas e equipamentos. A parte de custeio, por ser mais complexa, demandaria estudos mais aprofundados. O detalhamento do fundo deverá ser discutido em encontro entre entidades ligadas a agricultura e o governo na próxima semana, em Brasília.
O deputado federal Luis Carlos Heinze (PP), da Comissão de Agricultura da Câmara, pede pressa na criação do fundo e afirma que a questão do custeio é a mais urgente. O mesmo entende a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que montou uma proposta de estruturação do fundo.
A coordenadora da assessoria econômica da entidade, Rosemeire Santos, diz que a prioridade é reintegrar ao sistema de crédito o produtor que hoje estaria excluído por problemas de cadastro e assegurar recursos para o plantio.
– A maior necessidade é garantir a safra 2009/2010 – sustenta Rosemeire.
Opinião diferente tem o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flavio Turra. Para o dirigente, a prioridade é mesmo o investimento.
– Para custeio tem o seguro rural e o Proagro. Nesses casos, se o agricultor não colhe por qualquer problema e não consegue quitar o financiamento, o seguro paga o custeio – diz Turra, cético quanto à possibilidade de o fundo operar ainda este ano.
Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a questão de acesso ao crédito não será resolvida com o fundo. O assessor técnico da diretoria-executiva da entidade, Ademiro Vian, avalia que, em um momento de regras mais rígidas no sistema internacional de crédito, não será esta espécie de avalista instituído pelo governo que fará o dinheiro fluir.
– O problema não é acesso ao crédito, nem garantias bancárias. É preço (dos produtos agrícolas). Quando se faz uma análise de crédito o importante é saber se o produtor vai ter resultado e conseguir pagar o financiamento. Se uma operação depende de garantias, é porque ela não deve ser feita– opina Vian.