A valorização do arroz no mercado interno brasileiro foi mantida em sólidas bases na semana que encerra e com ótimas notícias para o setor. A primeira delas é um estoque de passagem ainda mais ajustado, segundo a Conab, em seu levantamento de safra. A retomada dos leilões de contratos de opção pela Conab, depois que os processos emperraram na burocracia do governo federal, também foi uma grande notícia.
Uma medida pela transparência e contra os riscos de corrupção nestes processos obriga, agora, a autorização e estudo pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda, além do MAPA. São três departamentos técnicos, jurídicos e ministros para analisar e assinar a autorização para os leilões, o que gerou uma espera de pelo menos 15 dias nos processos. A expectativa é de realização de pelo menos mais dois leilões entre 80 e 100 mil toneladas de arroz.
A outra boa notícia foi o recorde de exportações brasileiras, confirmando a expectativa do setor e que já era antecipada por Planeta Arroz desde março. A estimativa de aumento no mercado mundial em 2009/10, pela USDA, também é uma novidade favorável para os preços internos. O governo federal segue fazendo sua parte. O BNDES anunciou nova linha de crédito com juros baixos para investimento em máquinas e implementos.
Com um cenário interno e externo mais favorável, a alta das cotações foi sustentada no Rio Grande do Sul, com um volume levemente maior de negócios de arroz em depósito, principalmente na Zona Sul e na Depressão Central. Na Campanha e Fronteira os produtores estipulam valores de R$ 28,50 a R$ 29,00 para venda à vista, por saca, enquanto na região de Itaqui e São Borja já existem negócios concretizados por até R$ 32,00 a saca, em pagamentos parcelados para até 75 dias e de variedades nobres.
O indicador Cepea/Esalq/USP BM&F – Bovespa apontou mais uma alta e fechou a última sexta-feira na casa de R$ 28,08 a saca de 50 quilos de arroz em casca, padrão referencial 58x10, colocada na indústria. Manteve-se acima dos 14 dólares. Em julho, o índice já acumula alta de 3,85%. Ao mesmo tempo em que internamente a valorização é positiva, as ofertas de produto da Argentina aumentaram segundo corretores da região de fronteira. Há oferta de produto na fronteira com Itaqui e São Borja abaixo de 14 dólares. Ainda assim, com a ratificação, pelo STJ da decisão que obriga ao pagamento da CDO sobre o arroz importado, as empresas estão fazendo os cálculos antes de internalizar o produto.
SAFRA
Segundo o 10º levantamento de safra realizado pela Conab e divulgado na semana passada, a área cultivada com arroz no ciclo 2008/09 chegou a 2,92 milhões de hectares, com incremento de 1,7% em relação ao ciclo passado, 2,87 milhões de hectares. Destacam-se as regiões Centro-Oeste e Sul do país, com ganhos da ordem de 13,6% e 2,5%, respectivamente. No Rio Grande do Sul, a produtividade média atingiu 7,15 toneladas por hectare, um recorde. Foi 3,6% superior a registrada na safra anterior. Em Santa Catarina, apesar da ocorrência de fatores climáticos adversos no início do plantio as lavouras obtiveram em média 6,96 toneladas por hectare, o que também é considerado recorde em toda a série histórica. A produção nacional de arroz para a safra 2008/2009 é estimada em 12,7 milhões de toneladas, 5,6% superior a safra passada, resultado das boas condições de clima aliadas à boa tecnologia adotada. A colheita está finalizada nas principais regiões produtoras do país, registrando bons índices de produtividade média em comparação à safra 2007/2008. Na região Nordeste (sul do Maranhão e sul do Piauí), a colheita está em fase final. O levantamento trouxe como novidade a compatibilização dos volumes estimados de exportação. Apesar de o setor indicar algo entre 500 e 600 mil toneladas, a Conab insistia desde fevereiro em indicar uma retração, com exportação não superiores a 450 mil/t. Agora, indicou a previsão de 600 mil, que ainda mantém a expectativa de déficit, com a importação de 800 mil toneladas, principalmente do Mercosul. Mas, com esta mudança na expectativa de exportação, o estoque de passagem brasileiro em fevereiro de 2010 será o menor dos últimos 10 anos. A Conab indica um estoque de 1,075 milhão de toneladas, contra 1,23 que era previsto anteriormente. Exportações
Em junho, as exportações brasileiras de arroz alcançaram 76.630 toneladas e atingiram volume recorde no primeiro semestre do ano comercial de 2009. De janeiro a junho deste ano as vendas externas alcançaram 435 mil toneladas, superando em quase 80% o primeiro semestre de 2008. Enquanto a Conab passou de 450 mil para 600 mil a projeção de exportações em 2009, o setor produtivo já estima que pode aproximar-se de 700 mil toneladas, praticamente zerando a balança comercial, hoje prevista em déficit de 200 mil toneladas. Em junho, pelo menos, já houve colaboração neste sentido. As importações foram de apenas 60,3 mil toneladas, ou seja, 16,3 mil a menos que o volume embarcado nos portos brasileiros.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA na sigla em inglês) divulgou nesta quinta-feira o relatório de oferta e demanda mundial de grãos de julho. Para o mercado mundial de arroz, o relatório contém informações muito importantes. Segundo dados da USDA o mundo inteiro produzirá 449 milhões de toneladas de arroz beneficiado na safra 2009/10, em números redondos, volume 4,3 milhões de toneladas, ou 0,9% superior à safra do ciclo 2008/09. Esse comportamento se deve, ao aumento de área cultivada, principalmente na Ásia, em razão dos elevados preços de 2008 e dos incentivos governamentais.
O planeta deverá consumir 443,42 toneladas de arroz beneficiado no ciclo em andamento. Assim, os estoques contabilizarão um volume de 94,51 milhões de toneladas do grão processado, frente aos 88,94 armazenados na passagem do último ano-safra para a atual temporada. O crescimento é estimado em 6,3%.
Ainda segundo o relatório da USDA, o volume do comércio mundial de arroz deve ser ampliado em 1,7% neste ciclo, alcançando 30,23 milhões de toneladas do cereal industrializado no ano/safra 2009/10, ante 29,73 milhões que eram previstas no relatório de junho.
CENÁRIO
O momento é de produtores ofertando minimamente e muitas empresas buscando concretizar a compra de produto depositado ou renovar seus estoques de matéria prima. A queda-de-braço está mantida, com a indústria oferecendo até R$ 28,00 em algumas regiões e os produtores pedindo de R$ 0,50 a R$ 1,00 acima pela saca. O Litoral Norte mantém preços mais elevados, pelas características especiais de seu produto, na faixa de R$ 29,00 a R$ 30,00.
A movimentação de compra e venda de arroz em casca, bem como de negociação entre a indústria o atacado e o varejo, aumentou na semana passada e deve aquecer ainda mais nesta semana que inicia, quando as grandes redes de supermercados começam a recompor seus estoques, se preparando para atender às compras de fim de mês das famílias brasileiras. O ponto preocupante são as férias escolares de inverno, que tendem a reduzir a demanda do grão.
Os principais analistas de mercado, contudo, acreditam que esta alta se sustentará ainda mais um pouco, alcançando semanalmente cotações superiores entre R$ 0,50 e até R$ 1,00 em algumas regiões. Isso até o patamar em torno dos R$ 30,00. Isso baseando-se no cenário atual e que não haja o represamento de oferta por parte do produtor, nem uma enxurrada de grãos do Mercosul. Por hora, dizem os analistas, o referencial é para R$ 29,50 a R$ 30,00 no final de agosto, com alta gradual.
De qualquer forma, há ressalvas. Uma delas, importante, é o início do vencimento de custeio dos produtores gaúchos, bem como as negociações de compra de insumos e investimentos com a preparação do plantio da nova safra, um momento em que o produtor precisa estar capitalizado e poderá abrir mão do produto em busca de fluxo em seu caixa. Uma das orientações do setor é a de que o produtor procure não aumentar área e dê preferência ao investimento em tecnologia e produtividade, com ampliação dos cuidados pela contaminação das lavouras com arroz vermelho.
BENEFICIADO
A saca de 60 quilos do arroz agulhinha, tipo 1, beneficiado, posto em São Paulo, manteve cotação média de R$ 69,00, com ICMS incluso, variando da mínima de R$ 65,55 até R$ 72,80. O tipo 2 alcança até R$ 63,15. Já o fardo de 30 quilos de arroz beneficiado, do tipo 1, alcança valores entre R$ 37,25 a R$ 39,90. O parboilizado, tipo 1, é cotado entre R$ 39,00 e R$ 44,00, com média de R$ 41,50.
CORRETORA
A Corretora Mercado registrou a alta dos preços, com referencial de R$ 27,80 para o arroz gaúcho em casca, saca de 50 quilos e padrão para tipo 1. O beneficiado, em 60 quilos, é cotado em R$ 55,00. Nos subprodutos, o canjicão manteve cotação em R$ 28,00, a quirera em R$ 22,00 a saca, e o farelo de arroz se manteve em R$ 260,00 a tonelada.