Milho, trigo e café começam a ser prejudicados por causa do excesso de umidade. Em julho já choveu três vezes a média histórica para algumas regiões do estado.
As chuvas registradas desde o início do mês começam a prejudicar as lavouras no Paraná. Produtores de milho, trigo e café relatam atraso na colheita e problemas de qualidade por conta da precipitação acima da média. A colheita da segunda safra de milho foi interrompida em várias regiões, pois as máquinas não conseguem entrar no campo alagado. “Estamos com 38% da área colhida, o que representa um atraso. Ao encerrar julho, este valor deveria estar se aproximando dos 50%”, afirma Margorete Demarchi, agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab).
As chuvas neste ano somam-se a estiagens e geadas, formando um panorama de anormalidade climática no Paraná. Segundo Margorete, o clima se tornou um fator decisivo para a atual queda na produtividade de milho. “Esta safra já começou com quebra de 25% por causa da seca nos meses de março, abril e maio. Agora, começa a haver perda de qualidade no produto final. Apesar de o milho ser resistente, uma sequência de chuvas resulta na presença de fungos, ou mesmo o apodrecimento do grão.”
Em sua última estimativa, que não considera o estrago provocado pelo excesso de chuva, o Deral projetava para a safrinha de milho um resultado de 4,76 milhões de toneladas, diante de um potencial produtivo acima de 6 milhões de toneladas. “A medida que a colheita for finalizada, conseguiremos calcular o tamanho exato do prejuízo”, estipula Margorete. Uma nova avaliação oficial da safra está programada para o final de agosto.
O grão do café também é apontado como suscetível à água em abundância. Ao acelerar a fermentação do grão e provocar atraso na colheita, a perda de qualidade é iminente. “Esse é um tipo de cultura para a qual não há mágica. Se for colhido com problemas, a indústria não consegue reverter a perda e oferecer um bom produto para o consumidor final”, lembra Margorete.
Precipitação atingiu média de até 300 mm No Paraná, a quantidade de chuva em julho chegou a 300 milímetros em algumas regiões, muito acima da média histórica para o mês, que vaira de 100 a 150 mm. “Temos frentes frias vindas da Argentina estacionadas sobre a Região Sul do Brasil. É um ciclo se alimentando. A cada semana chega uma nova frente e substitui a da semana anterior”, explica Etchichury.
Para alívio dos produtores, a quantidade de chuva sobre o estado deve diminuir a partir da próxima semana. “Não há garantia de que as precipitações parem definitivamente, mas há grande possibilidade de trégua a partir de segunda-feira”, acredita Paulo Etchichury, meteorologista do Instituto Somar.
Se as previsões meteorológicas se concretizarem, agosto e os meses seguintes serão mais secos e quentes. “Haverá algumas ondas de frio e chuva no Paraná a partir do mês que vem, mas não tão intensas quanto as de agora. O fenômeno do El Niño, que está se instalando neste mês – e sendo parcialmente responsável pelo clima – começa a estabilizar.”
E justamente por causa deste processo, não deve ocorrer ondas de estiagem como as ocorridas no início deste ano. “No próximo verão o El Niño estará amadurecido e vai resultar em chuvas. Para os produtores de soja esse cenário é bom, mas os produtores de trigo devem ficar em alerta”, avisa o meteorologista.
Umidade deixa trigo suscetível a doenças A fragilidade da espiga do trigo também deixa o cereal suscetível às chuvas. “As condições climáticas são preocupantes, pois percebemos que está aumentando a incidência de doenças na planta”, relata Otmar Hubner, do Deral. “Caso as precipitações continuem, poderemos ter perdas na colheita.”
No Paraná, o período de plantio do trigo está praticamente encerrado. Apenas 1% da área destinada – na Região Sul – ainda espera as sementes, onde as chuvas obrigaram os agricultores a suspender o trabalho.
“Água em excesso se torna um obstáculo para o desenvolvimento da planta, pois atrapalha a absorção de nutrientes e bloqueia a luminosidade do sol. O trigo também pode acamar”, diz Hubner.
A colheita no Paraná começa em agosto, na região Norte, e deve gerar um total de 3,37 milhões de toneladas. “Em 2008 tivemos perdas na safra e, mesmo assim, alcançamos recorde de produtividade. Acredito que algo parecido possa ocorrer neste ano”, analisa o agrônomo.
Ceasa Levantamento da Ceasa demonstra que o preço dos hortifrutigranjeiros respondeu ao clima chuvoso. A pesquisa analisou a cotação de 30 produtos. Na média, houve aumento de 7,44%.
O tomate foi o produto que registrou o maior aumento. Ficou 43% mais caro. Em seguida aparecem a abóbora (33%) e a batata (28%). “O tomate está em período de entressafra na Região Metropolitana de Curitiba e a batata está com a colheita prejudicada pela chuva. A demanda está sendo suprida pela produção de outros estados e o transporte encarece o preço final”, explica Valério Borba, gerente da Ceasa Paraná.
Porém, vegetais como alface e couve-flor, mais vulneráveis a alterações de clima, tiveram queda no preço. Segundo Borba, “os produtores resolveram aumentar a oferta ao perceber que poderiam perder parte da safra por causa das chuvas.”