Safra - Estudo sugere como reduzir perdas no transporte da safra
Data:
06/08/2009
Mais de R$ 2,5 bilhões ficam nas estradas do País a cada safra; redução do prejuízo exige modernização.
A cena que se repete em todas as safras de grãos de cereais caindo das carrocerias dos caminhões durante o transporte, pode parecer inofensivo para muitos, mas representa um grande prejuízo na soma final da produção. O limite de perdas no transporte aceito pelo mercado atualmente é de 0,25%. Em um caminhão que transporta 30 toneladas de soja, por exemplo, a perda tolerada é de 75 quilos - mais de uma saca do produto. O transportador assume o prejuízo somente quando a perda ultrapassa esse percentual.
O exemplo ganha outra dimensão se comparado com a atual safra de soja no Brasil, aproximadamente 57 milhões de tolenadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Se a perda fosse uniforme em 0,25%, o País deixaria nas estradas 142,5 mil toneladas do produto apenas no transporte, ou quase 2,4 milhões de sacas de 60 quilos. Em termos de recursos, isto representa um prejuízo em torno de R$ 106 milhões, considerando a cotação do dia.
A boa notícia é que as perdas podem ser reduzidas em até 60%, dependendo da adoção de uma série de iniciativas no setor. A constatação é do administrador de empresas Pedro Antônio Semprebom, que realizou um trabalho de conclusão de curso a partir das estatísticas que levantou na empresa ATT - Armazenagem, Transporte e Transbordo, onde é gerente operacional há 25 anos. O trabalho intitulado Perdas no Transporte Agrícola foi apresentado no 14º Ciclo de Estudos de Política e Estratégia da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg), representação de Londrina.
A empresa, com sede em Londrina, trabalha com transporte e armazenagem de produtos agrícolas, chegando a exportar cerca de 20% de toda a soja brasileira em algumas safras. Semprebom identificou que as principais causas para as perdas no transporte são a idade avançada da frota, a má conservação dos caminhões e as péssimas condições de boa parte das rodovias brasileiras. Outros fatores apontados são a falta de qualificação de quem efetua o transporte e os furtos.
O pior, segundo ele, é que as perdas no transporte podem prejudicar o país também em termos de competividade no mercado internacional. Precisamos ter custos baixos para competir em condições de igualdade com outros países; toda vez que se fala em perdas, você deixa de ter remuneração daquilo que está se perdendo e traz para dentro do país aquilo que podemos chamar de custo Brasil.
O administrador de empresas concluiu que as perdas no transporte podem ser reduzidas a partir das informações que levantou na própria ATT para sua pesquisa. Ele reuniu dados de vários produtos durante dez anos, mas para efeitos do estudo ficou apenas com a soja a granel e farelo de soja. O resultado foi surpreendente. Temos uma base de dados confiável e representativa, que aponta para uma média de perdas de apenas 0,10%, o que é extremamente abaixo do que é aceito pelo mercado. Semprebom admite que é impossível acabar com 100% das perdas.
Segundo ele, a iniciativa privada e o próprio governo devem despertar para a importância social que representa a redução das perdas no transporte agrícola. Esse é um problema de âmbito nacional sim porque o Brasil tem milhões de pessoas passando fome e ao mesmo está desperdiçando esses produtos. Além disso, nós temos que nos preocupar em trazer receitas para o País e não perdê-las pelas estradas.
Solução depende do envolvimento de toda a cadeia O administrador de empresas Pedro Antônio Semprebom aponta uma série de medidas que poderiam ser tomadas para reduzir as perdas no transporte agrícola e a primeira delas é a redução do índice aceito pelo mercado atualmente. ‘‘Acredito que se começasse com uma redução para 0,15% em um primeiro momento, já forçaria o transportador a tomar mais cuidado com a carga’’. O pesquisador cita que a perda de 0,25% não é uniforme e pode ser bem maior, dependendo da idade e da conservação do veículo.
Por isso, ele diz que há uma necessidade urgente de modernização no setor de transporte. ‘‘Acima de 20 anos, o veículo começa a ficar caro porque o profissional autônomo, que depende daquilo para sobreviver, deixa de fazer algumas manutenções para ter um lucro maior’’. Ele acrescenta, inclusive, que a idade da frota já é observada por algumas transportadoras.
Semprebom destaca ainda que as perdas só poderão ser minimizadas se houver um comprometimento de todos os envolvidos na cadeia produtiva, inclusive, com investimento em qualificação profissional. ‘‘Tem gente que está fazendo a mesma coisa há 30, 40 anos e nunca mudou porque ninguém chegou e disse que precisa mudar. Por isso, para essa pessoa está certo o que ela vem fazendo’’.
Outra medida necessária, sugerida por Semprebom, é a recuperação e manutenção das rodovias brasileiras, em especial na Região Centro-Oeste do País. ‘‘Este é um agravante muito sério porque há locais em que os motoristas perdem as cargas ou até os veículos pela má conservação das estradas. O governo tem que fazer a sua parte porque recebe recursos de várias fontes para cuidar das rodovias, mas tem oferecido muito pouco na contrapartida’’.