Safra - Certificação de armazéns será obrigatória em 2010
Data:
04/09/2009
Mudança propiciará modernização e menor índice de perdas nas operações.
Levantamento divulgado recentemente pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) aponta que mais de 500 mil toneladas de milho estão a céu aberto por falta de espaço nos armazéns. Essa produção está concentrada principalmente nas regiões norte, médio norte e noroeste do Estado, onde a estrutura de armazenagem da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é precária para atender a safra estadual de grãos, estimada 27,48 milhões de toneladas, ou, 20,44% do total a ser ofertado pelo Brasil, cerca de 134,49 milhões de toneladas.
Essa realidade, entretanto, pode mudar a partir do próximo ano com a instrução normativa que estabelece os requisitos para a certificação de armazéns em ambiente natural e que passa a vigorar em janeiro de 2010. A medida, publicada no Diário Oficial da União, traz impacto para os armazéns, que serão obrigados a fazer a certificação. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) é uma das três universidades do país credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para formar auditores para certificação.
De acordo com o professor Carlos Caneppele, coordenador do Curso de Auditores Técnicos para Certificação de Unidades Armazenadoras, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UFMT, a certificação propiciará a modernização das técnicas operacionais e profissionais no setor, minimizando as perdas que ocorrem nos armazéns. Segundo ele, as perdas chegam a 10%, “dependendo da situação do armazenamento e do transporte dos produtos”.
A certificação tem por finalidade adequar os armazéns aos requisitos obrigatórios da Conab e às conformidades técnicas dentro da armazenagem. “Em Mato Grosso, muitos armazéns terão de fazer adequações para serem credenciados de acordo com a instrução normativa do Mapa”.
Caneppele explicou que a base da certificação compreende requisitos técnicos e procedimentos para guarda e conservação dos produtos, contemplando ainda a capacitação técnica da mão-de-obra, a higienização de máquinas e equipamentos (controle de pragas) e segurança das unidades armazenadoras.
Em todo o Estado são 2.156 armazéns. De acordo com a Conab, 391 são credenciados e precisam se adequar às novas regras para continuar a receber e armazenar os estoques governamentais.
Além de reduzir as perdas no processo de armazenagem, o Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras, coordenado pelo Mapa, servirá para garantir a qualidade dos produtos no mercado interno, melhorar o relacionamento entre os produtores, armazenadores e a sociedade, e aumentar a competitividade internacional do agronegócio brasileiro.
Segundo o professor Caneppele, o cadastramento na Conab é um dos requisitos obrigatórios da certificação. “Para isso, todo armazém deve estar cadastrado na Companhia, ou seja, seus dados técnicos devem estar disponíveis no banco de dados”. A certificação é obrigatória para todas as empresas armazenadoras jurídicas que prestam serviços remunerados para terceiros, independentemente da propriedade do produto. O credenciamento realizado pela Conab está relacionado exclusivamente com os estoques de propriedade do governo federal.
Algumas regras para a certificação de armazéns serão obrigatórias no momento da primeira vistoria da unidade armazenadora pela entidade certificadora e outros terão prazos de três ou cinco anos para os armazenadores se adequarem. O Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) já iniciou o credenciamento dos Organismos de Certificação de Produto (OCP).
Em Mato Grosso, a OCP-Certifica, do Rio Grande do Sul, é representada pela empresa Plenum, em Cuiabá.
UFMT
A Universidade Federal de Mato Grosso e as Universidades Federais de Pelotas-RS e Viçosa- MG foram as únicas credenciadas pelo Mapa para formar auditores técnicos para certificação de unidades armazenadoras. Os profissionais formados aqui vão poder atuar em todo o país. A demanda é grande, pois só no Estado são mais de 2 mil armazéns. O curso tem 30 vagas para engenheiros agrônomos.
As inscrições podem ser feitas até hoje (04), no Núcleo de Tecnologia em Armazenagem, na própria UFMT, ou pelo site www.fundacaouniselva.org.br. O curso vai ser realizado no período de 14 a 19 de setembro, com uma carga horária de 48h/aula.
‘Pontos cegos’ no campo A falta de logística em Mato Grosso mostra mais uma de suas cruéis facetas, desta vez, sobre o segmento de armazenagem de grãos. Enquanto nas regiões norte e noroeste do Estado boa parte do milho colhido nesta safrinha ainda se encontra a céu aberto por falta de armazéns, na região da Grande Cuiabá sobra espaço em unidades credenciadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segundo técnicos da Companhia, devido à distância entre os armazéns e as regiões produtoras, essas unidades são pouco utilizadas e estão com espaços disponíveis para armazenar grãos a granel ou em sacas.
É o caso de um armazém localizado em Várzea Grande. O Capão Grande Armazéns Gerais, credenciado pela Conab desde 2005, tem capacidade para armazenar até 90 mil toneladas de grãos, sendo 60 mil toneladas para produto a granel e 30 mil toneladas para produtos em fardos, sacas e bags. No entanto, armazena atualmente apenas 36 mil toneladas de milho – todas a granel – com disponibilidade para agregar outras 54 mil toneladas.
“Apesar de sermos credenciados pela Conab, a nossa estrutura ainda é muito pouco utilizada pelos produtores. Na região da Grande Cuiabá existem outros armazéns em situação idêntica, com espaço ocioso e que poderiam estar sendo aproveitados para minimizar o problema do armazenamento em nosso Estado”, diz o gerente da unidade armazenadora, Walter Alves de Araújo Júnior.
O milho guardado no armazém Capão Grande é oriundo de Sapezal, Sinop e outras regiões. No ano passado, o armazém estocou 25 mil toneladas de milho e 33 mil toneladas de soja a granel.
A capacidade estática dos armazéns credenciados pela Conab é de 6,671 milhões de toneladas. Vale lembrar que somente a safra de milho, em Mato Grosso, conforme projeções do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) – órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) – deve atingir 8,50 milhões t.
A Conab também tem no Estado cinco unidades armazenadoras em Sinop, Alta Floresta, Sorriso, Diamantino e Rondonópolis. Juntas elas têm capacidade para armazenar 200 mil toneladas.
Enquanto existem ‘pontos cegos’ da armazenagem no Estado, ou seja, falta depósito nas regiões produtores e sobram espaços em locais sem tradição agrícola, do lado produtor do Estado, cerca de 500 mil toneladas do grão, está ‘guardada’ a céu aberto, segundo estimativas da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT).
ESCOAMENTO
O diretor executivo da Aprosoja/MT, Marcelo Duarte Monteiro, informou ontem que os produtores continuam aguardando a remoção do milho dos armazéns da Conab para abrir espaço para os produtos que ainda estão a céu aberto em várias regiões.
Monteiro não soube informar o montante das perdas. “Ainda é cedo para avaliar, mas teremos perdas de qualidade e também no volume dos grãos estocados a céu aberto”, já que nas últimas semanas, chuvas atípicas para esta época do ano foram registradas em praticamente todas as regiões de Mato Grosso.
Na semana passada, o presidente do Sindicato Rural de Tapurah (433 quilômetros ao norte de Cuiabá), Marusan Ferreira Barbosa, informou que as perdas decorrentes das chuvas são irreversíveis, podendo chegar a 10%.
Para o presidente do Sindicato Rural de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), Antônio Galvan, é preciso escoar pelo menos três milhões de toneladas de milho, “pois temos a pior situação de armazenagem para o milho nos últimos anos”.
Na avaliação da Conab, o problema da falta de armazéns em Mato Grosso é localizado. “Existem regiões auto-suficientes em armazéns, mas em alguns municípios pode ocorrer déficit. O problema é pontual e afeta apenas algumas regiões produtoras”, afirmam os técnicos.
O diretor executivo da Aprosoja/MT, Marcelo Monteiro, quer que nos leilões da Conab o governo federal priorize as empresas do Estado com tradição em exportação. “No último leilão os produtos arrematados foram concentrados nas mãos de poucas empresas sem tradição no mercado. Com isso poderemos ter uma demora no escoamento”.
Enquanto o problema não é resolvido, os produtores continuam aguardando novos leilões do Prêmio de Escoamento do Produto (PEP). No último leilão, a Conab ofertou 760 mil toneladas de milho, sendo 500 mil toneladas de Mato Grosso.