Trigo - Trigo de safra recorde vira prejuízo no Estado
Data:
17/09/2009
Revisão para baixo na estimativa da produção de trigo do Paraná será divulgada na próxima semana pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura (Seab). Os números devem finalmente confirmar a queda expressiva que vem acontecendo em função do excesso de chuvas em quase todas as regiões do estado, nas nove áreas definidas pelo zoneamento agrícola.
Os técnicos relatam que em alguns pontos da região Norte produtores estão prevendo perda total da produção. Em agosto, o Deral confirmou a quebra de 9%. Com o aumento das chuvas, esse índice deve ser maior. O secretário de Agricultura Valter Bianchini já fala em redução de 20%. “É uma queda lastimável”, declarou ele semana passada, em encontro com produtores em Tibagi. O levantamento mais recente do Deral, divulgado no final do mês passado, prevê a colheita de 3,17 milhões de toneladas. A previsão inicial era de que o plantio de 1,29 milhão de hectares rendesse ao estado 3,49 milhões toneladas de trigo.
Otmar Hübner, técnico do Deral, comenta que o maior problema foi o prolongamento da chuva. “Nas regiões onde o trigo é plantado antes, a situação ficou pior. As espigas que não apodreceram acabaram favorecendo a germinação de grãos”, diz, acrescentando que, mesmo com rigor visto nas lavouras do estado, como o escalonamento de plantio, uso de variedades diversas e manejo adequado, o clima deste ano foi atípico e pegou a todos de surpresa.
Para Ely Germano Neto, que plantou 2,5 mil hectares em áreas em Arapoti e Piraí do Sul, no Centro-Sul do estado, o susto foi grande. A produtividade, que chegou a atingir picos de 7 mil quilos por hectare no ano passado, com média de 5 mil kg/ha, não passou de 1,5 mil Kg/ha no primeiro talhão colhido, na semana passada. “Os primeiros dias de colheita já mostram a queda na qualidade dos grãos”, diz ele, prevendo prejuízo, já que o valor pago pelo trigo de menor qualidade, destinado a ração, equivale a 20% do valor do grão à panificação (hoje em R$ 500 por tonelada). A quebra foi causada pela giberela, doença fúngica que afeta a formação das espiga e o enchimento dos grãos.
Francisco Simioni, diretor do Deral, confirma que a redução não deve comprometer somente a produtividade, mas a qualidade do trigo. “Isso vai acabar interferindo nos preços”, ressaltou durante reunião com representantes de cooperativas e entidades agrícolas. No encontro, foram apresentados dados da Embrapa sobre a situação da cultura. Os dados mostram que dos quase 1,3 milhão de hectares semeados com trigo no Paraná, pelo menos 780 mil, ou 60% da área, poderão sofrer prejuízos de até 80% devido ao excesso de chuvas.
Na região Centro-Oeste, uma das primeiras a plantar trigo no Paraná, a produtividade não deve chegar a 2 mil quilos por hectare, ante expectativa de mais de 3 mil kg/ha. No Centro-Sul, onde a colheita ainda deve se estender por cerca de 60 dias, produtores confirmam queda de até 80% no rendimento médio, que em condições normais deveria chegar a 3,25 mil kg/ha.
Na fazenda Wilhelm Marques Dib, no município de Sengés, próximo a divisa com São Paulo, a média acima de 3 mil kg/ha do ano passado deve cair pelo menos 25%. É o que prevê o agrônomo Carlo Rodrigo Dornelles, que acompanha a área. “Ainda temos pelo menos dois meses de colheita, mas já dá para ver que não teremos o resultado esperado”. Ele lembra que houve excesso de chuvas durante todo o desenvolvimento da lavoura, o que disseminou os fungos causadores da giberela e da brusone.
Precipitação Levantamento do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) mostra que nos últimos meses houve excesso de chuvas em todo o estado. Em junho, choveu 108 mm, sendo que a média histórica é de 89 mm. A média para julho é de 64 mm, mas choveu 244 mm, quase quatro vezes mais. Já o mês de agosto registrou precipitação de 80 mm, também acima do histórico de 53 mm. O mês de julho registrou o maior índice de chuva medido pelo instituto, desde 1976.
Gabriela Mainardes
Divergências sobre o seguro Ponta Grossa e Curitiba - Grande parte das perdas nas lavouras de trigo do Paraná foi causada por fungos que se desenvolvem com a umidade e causam doenças como brusone e giberela. Essas doenças afetam a formação das espiga e o enchimento dos grãos, provocando perdas quantitativas e de qualidade na produção. O problema é que o seguro agrícola, seja o da agricultura empresarial ou o Proagro da familiar, não cobre esse tipo de prejuízo. Os produtores que tiveram perdas com doenças fúngicas correm o risco de ficar na mão.
As seguradoras defendem que são cobertos pelo seguro apenas danos causados por chuva excessiva, granizo, ventos, geada e seca. Do outro lado, produtores argumentam que o que causou as perdas foi justamente o excesso de chuva, que prejudicou ou, em alguns casos, chegou a impedir o controle da brusone e da giberela.
Para tentar resolver o imbróglio, o setor produtiuvo está preparando uma nota técnica esclarecendo a situação, com base em pesquisas oficiais elaboradas pela Embrapa e pelo Iapar, na tentativa de facilitar a obtenção do seguro pelos produtores. A nota será enviada para o Banco Central, ministérios da Agricultura e Desenvolvimento Agrário e Federação Nacional das Seguradoras.
As companhias de seguro adiantam que pretendem analisar cada caso individualmente, porque há cobertura para problemas climáticos, mas não contra doença que não foi tratada corretamente. Adriano Madureira, da Sólida Consultoria, lembra que nos casos de doenças nas plantas o contrato leva em consideração a possibilidade de controle. “Geralmente o seguro só ampara nos casos em que o ataque arrasa quase a totalidade da plantação, mas dificilmente esse tipo de fungo atinge uma extensão tão grande, porque há meios de prevenir”, diz ele.
Ely Germano, agricultor da região de Ventania, rebate dizendo que por causa do excesso de chuva ficou difícil até mesmo entrar na lavoura para fazer a pulverização dos fungicidas. “Mesmo com o plantio em diferentes épocas não foi possível evitar o ataque de fungos”, diz ele.
Conforme o diretor comercial da Aliança Seguradora, Wady José Mourão Cury, as empresas devem avaliar as diferentes situações, como a de agricultores que controlaram a doença e de outros que não conseguiram controlar. “As seguradoras querem compreender a situação e serem justas dentro do possível”, justificou Wadi Cury, cuja empresa é responsável pelo seguro de 20% da produção paranaense de trigo.
O Banco do Brasil, principal agente financeiro de crédito agrícola no estado, informou que entre janeiro e agosto de 2009 foram fechadas 8.240 operações de custeio de safra de trigo no valor de R$ 488 milhões no Paraná. Ainda segundo o BB, 5.729 operações no valor de R$ 198 milhões contam com a cobertura do Proagro e outras 1.842 operações no valor de R$ 148 milhões são cobertas pelo seguro agrícola. Até o momento, o banco recebeu 1.577 pedidos de cobertura de Proagro e 560 de seguro agrícola.