Trigo - Trigo percorre caminho tortuoso do campo à mesa
Data:
05/10/2009
A cultura pede socorro pois o ano não foi favorável – seca, geadas, excesso de chuvas e doenças – produtores esperam ação do governo para pagamento do seguro
Os 30 alqueires de onde o produtor Samuel Romero Sanches pretendia colher entre 3.600 e 3.900 sacas de trigo foram quase totalmente danificados pelo excesso de chuva do inverno, tipicamente seco e frio, condição ideal para a cultura. Porém, a chuva se estendeu por toda a estação, provocando grandes prejuízos à agricultura, sobretudo o trigo.
Na lavoura de Samuel Sanches, situada no município de Jataizinho, o que não foi perdido pela excesso de água, foi atacado pela brusone, cuja ocorrência é favorecida pela chuva. "Não colhi nenhum saco de trigo, apenas triguilho", afirma o produtor, que calcula ter gastado 48 sacas para cultivar cada alqueire do produto.
Sanches afirma que utilizou toda a tecnologia de cultivo. O fungicida, aplicado de acordo com a recomendação técnica, foi completamente levado pela chuva. Com perda total, o agricultor agora aguarda o resultado da mobilização de produtores e entidades, que reivindicam a cobertura do seguro, que não indeniza prejuízos causados por doenças.
O excesso de chuva provocou perdas importantes no trigo. O Paraná, principal produtor brasileiro, esperava colher 3,5 milhões de toneladas nos 1,3 milhão de hectares cutivados, mas o último levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) indicava uma produção em torno de 2,7 milhões de toneladas. Ainda segundo o Deral, até a última quinta-feira, 47% da área tinham sido colhidas: 16% rendeu produto de qualidade ruim, 33% de qualidade média e em 51% foi colhido produto de qualidade boa.
Este ano, os produtores de trigo sofreram com as adversidades do clima. Mas este é apenas mais um problema a ser contabilizado. O setor trigo tem que conviver com incertezas como a concorrência com o produto importado e preços abaixo mínimo estabelecido pelo governo. ""Acabei de vender o trigo do ano passado e não consegui nem o preço mínimo"", diz Sanches.
Questões urgentes e recorrentes do trigo inspiraram a realização de um painel no Rural Tecnoshow, que se realiza esta semana na Sociedade Rural do Paraná, em Londrina. Todos os elos da cadeia produtiva estavam representados no evento.
Participaram do painel José Maria dos Anjos, diretor do Departamento de Comercialização, Abastecimento Agrícola e Pecuária do Mapa; Mônica Avelar Antunes Neto, coordenadora geral de política agrícola do Ministério da Fazenda; Paulo Magno Rabelo, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); Rui Polidoro Pinto, da Câmara Setorial do Trigo; Roland Guth, da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo); e Flávio Turra, gerente-técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Ao final do evento, o grupo decidiu elaborar documento contendo as questões relativas a todos os segmentos da cadeia produtiva, com foco em questões pontuais, de médio e longo prazo. ""O setor chama a atenção para o orçamento da União para o próximo ano, já que os recursos para a agricultura devem ter previsão orçamentária"", diz o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Alexandre Lopes Kireeff.
No dia do painel, o secretário de Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, encaminhou ofício ao Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa) solicitando a ação do ministério para o sucesso da mobilização dos triticultores. O documento, que toma como base nota técnica do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), solicita que o Mapa faça gestões para que o Banco Central decida pelo pagamento do Proagro nas lavouras que sofreram quebra de produção por causa da brusone.