Preços, rendimentos do produtor, necessidades de importação, material genético para atender a demanda da indústria, efeitos climáticos nas lavouras são questões que nunca saem das pautas de discussão dos organismos que tratam do setor e nem da cabeça dos triticultores que a cada safra sentem os efeitos da dinâmica da cultura do trigo no Brasil.
Bem longe de produzir a totalidade do que necessita o setor, os produtores brasileiros sofrem com a concorrência do trigo trazido do exterior, que acaba interferindo nos preços. A logística do transporte no País também provoca efeitos negativos: o custo da circulação da mercadoria pelas estradas e questões do sistema de cabotagem fazem com que a importação seja muito mais vantajosa para os estados consumidores.
"O trigo brasileiro arca com custos do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e impostos sobre frete que o importado não paga", exemplifica José Maria dos Anjos, diretor do Departamento de Comercialização, Abastecimento Agrícola e Pecuária do Ministério da Agricultura e abastecimento (Mapa). Ele foi um dos palestrantes do painel sobre os desafios do trigo realizado durante o 4º Tecnoshow na semana passada.
A Câmara Setorial Brasileira dos Cereais de Inverno, que dá ênfase ao trigo, discute de forma sistemática questões prementes e ainda soluções a médio e longo prazo. De acordo com Rui Polidoro Pinto, que representou a câmara setorial no painel, os participantes da cadeia produtiva do trigo estabeleceram em 2008 um protocolo de intenções visando o ano de 2012. "Até lá se pretende produzir 70% da necessidade brasileira, o que significa alcançar as 8 milhões de toneladas", afirma.
O grupo estima que para atingir a meta seriam necessários R$ 2,5 bilhões, aplicados nos diversos segmentos da cadeia produtiva. Polidoro Pinto afirma que os recursos seriam liberados para o crédito, para melhoria da qualidade do produto, seguro agrícola e segregação - item que engloba as condições ideais de separação de acordo com o tipo e armazenamento do produto. "As condições de classificação interferem na rentabilidade do produtor", afirma.
Polidoro Pinto afirma que algumas questões têm interferido nos rumos que o setor deve tomar para atingir as metas. "O goveno não tem liberado o crédito em volume e época adequados", critica. Segundo ele, outro problema é que nem mesmo o preço mínimo vem sendo praticado. Os produtores recebem entre R$ 380 e R$ 390 por tonelada, ou R$ 430 no mercado de lotes, quando o preço mínimo é de R$ 530 toneladas. (R.C.)