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Soja - Real valorizado expõe falhas do mercado da soja
Data: 26/10/2009
 
O produtor de soja está sendo obrigado a refazer as contas para a safra 2009/10. Especialmente nas regiões mais distantes dos portos, os preços da commodity são suficientes apenas para cobrir os custos de produção. Em alguns casos, em função do custo da logística, as margens já são negativas.

Trata-se de um cenário bem menos otimista do que o projetado há pouco mais de dois meses, quando o setor fez os investimentos necessários para plantar uma área recorde. A piora deve-se a um conjunto de problemas que se escondem atrás de único vilão: o câmbio. Quando os agricultores contrataram os insumos para o plantio da nova safra, há cerca de três meses, o dólar era negociado na faixa de R$ 1,90. De lá para cá, a moeda americana caiu cerca de 10%, atingindo o patamar de R$ 1,69 na semana passada.

O dólar já caiu cerca de 26% desde o início do ano, mas esse efeito foi pouco sentido pelos produtores de soja ao longo da safra 2008/09. Isso porque, ao contrário do que acontecera nos anos anteriores, os produtores compraram os insumos para a safra, no início do segundo semestre de 2008, com dólar a R$ 1,60 e comercializaram boa parte do volume no primeiro semestre deste ano, quando a moeda norte-americana estava acima de R$ 2,00.

A economista da Tendências Consultoria, Amaryllis Romano, diz que para o setor agrícola o câmbio não é necessariamente um problema. O real se valorizou porque o Brasil é a bola da vez no mercado internacional, mas também porque as exportações de soja bateram recorde, afirma. Ela observa que, em um regime de câmbio flexível, saldos positivos na balança comercial tendem a fortalecer a moeda doméstica.

Na opinião da economista, os preços em real tendem a se ajustar ao câmbio no médio prazo, o que torna indiferente para o agricultor produzir com o dólar a R$ 1,50 ou R$ 3,00. O que mata o produtor é a volatilidade, é plantar com o dólar a R$ 3 e colher a R$ 1,50 e o problema se agrava pelo fato de que poucos produtores fazem hedge de suas operações em bolsa, diz ela.

Na opinião do pesquisador Lucilio Rogerio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a competitividade do produtor brasileiro em um cenário de câmbio valorizado não pode depender apenas de investimentos que estão nas mãos do Estado. Segundo ele, o produtor também precisa se modernizar, sofisticando suas estratégias de comercialização e financiamento.

Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), lembra que a moeda brasileira já operou dentro de um regime de paridade em relação ao dólar e, embora reconheça o impacto que isso tem sobre a renda do produtor, minimiza os problemas gerados por um cenário de câmbio forte: Ninguém morreu por causa disso no passado. Não sei como seria se voltássemos a operar num regime de paridade. Provavelmente, o governo teria de eventualmente entrar no mercado por meio de operações de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor) para ajudar a agricultura, supõe.

A soja é o produto com maior peso na pauta de exportações brasileira. Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil exportou 38,82 milhões de toneladas de soja e derivados entre janeiro e setembro deste ano, 17,3% a mais do que em igual período do ano passado, o que gerou uma receita de US$ 15,65 bilhões no período - quase 14% da receita de todas as exportações do País. (AE)


Fonte: Folha de Londrina

 
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