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Soja - Transgênica e mais nutritiva
Data: 29/10/2009
 
Soja com alto teor de ômega 3 é considerada segura para consumo nos EUA

A chamada segunda geração de transgênicos parece estar pronta para finalmente ir dos laboratórios para a mesa. A Administração de Remédios e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) considerou segura para consumo humano uma soja geneticamente modificada para conter alta concentração de ômega 3. Esse nutriente normalmente só é encontrado em boa concentração em peixes como o salmão. A soja, desenvolvida pela multinacional Monsanto, poderia ser usada em margarinas. Com a aprovação, a indústria alimentícia americana poderá testar a novidade em seus produtos a partir deste mês, segundo a revista britânica "New Scientist".

Chegada ao mercado em 2010

A expectativa é que produtos enriquecidos com o óleo de soja transgênica cheguem ao mercado no fim de 2010 ou no início de 2011.

Os transgênicos de segunda geração são aqueles que prometem benefícios para a saúde do consumidor.

Os da primeira acenam somente com vantagens econômicas para os agricultores. Exemplos são os grãos resistentes a insetos e herbicidas, que estão no mercado há mais de dez anos. Além da Monsanto, Basf e Du Pont pretendem lançar em breve transgênicos de segunda geração.

O ômega 3 é o nome dado a ácidos graxos, considerado uma gordura "do bem", associado à redução do risco de infarto e derrame.

Geralmente, ele é encontrado em peixes de água fria, como o salmão e a sardinha. Segundo seus defensores, a nova soja poderia também aliviar a pressão nos estoques desses peixes,

que sofrem com a sobrepesca graças à procura de óleo com a substância. Uma pesquisa recente, feita pela Universidade de Harvard, concluiu que, nos Estados Unidos, a ausência de ômega 3 numa dieta é a sexta principal causa de mortes que poderiam ser evitadas.

Algumas plantas, como a linhaça, produzem um tipo de ômega 3 chamado ácido alfa-linolênico (ALA). Uma forma de aumentar a quantidade de ômega 3 numa dieta é ingerir linhaça ou então margarinas ou demais produtos que contenham ALA. Entretanto, apenas uma pequena quantidade de ALA é convertida pelo corpo em ácidos graxos que possam ser efetivamente utilizados pelo organismo. Já os óleos de peixe são ricos em dois tipos de ômega 3: DHA, importante para o sistema nervoso e o cérebro, e EPA, importante para o sistema cardiovascular.

Na pesquisa para produzir grãos com ômega 3 EPA, cientistas inseriram dois genes no genoma da soja - um extraído de uma planta semelhante à prímula e outro tirado de um fungo. A soja modificada produz, então, ácido estearidônico (SDA). Como o ALA, esse ácido é convertido em EPA no organismo humano, mas em proporções muito maiores. A nova soja, porém, não tem concentração maior do DHA.

- Para obter um grama de EPA, a pessoa precisaria ingerir entre 3 ou 4 gramas de SDA e cerca de 20 gramas de ALA - afirma David Stark, representante da Monsanto.

Não existe uma recomendação oficial sobre o consumo diário de ômega 3. Segundo a GOED Omega3, empresa que produz produtos à base da substância, o consumo próximo do ideal só é alcançado em países nos quais existe uma grande tradição de consumo de peixes entre a população, como o Japão e a Islândia.

Segundo a Monsanto, menos da metade de um hectare seria o suficiente para produzir a mesma quantidade de EPA presente em 10 mil porções de salmão.

- Não há peixes suficientes para oferecer a quantidade de EPA e DHA que precisamos. Por isso, esse é um avanço positivo - diz Jack Winkler, chefe da Unidade de Política da Nutrição da Universidade Metropolitana de Londres

Nova soja da Embrapa vem aí

Presidente da CTNBio não vê problema no produto americano

A segunda geração dos transgênicos ainda não chegou ao país, mas deve entrar em breve na pauta de discussões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A previsão é do presidente do órgão, o bioquímico Walter Colli. Ele afirmou que a liberação da soja com ômega 3 nos EUA abre caminho para que o produto chegue à América Latina.

- A comissão ainda analisa trangênicos de primeira geração. Mas, agora que liberaram nos EUA, não tenho dúvidas de que virá logo para o Brasil - disse.

Colli manifestou simpatia pela nova soja. Para ele, a invenção pode democratizar o consumo de ômega 3, que só existe naturalmente em alta concentração em peixes nobres, como salmão e atum.

- As pessoas de baixo poder aquisitivo não conseguem comprá-los. Se o óleo de soja for enriquecido com a substância, mais gente poderá consumi-la - afirmou o presidente da CTNBio. - Não acredito que seja uma panaceia, mas parece melhor do que o que está disponível hoje.

Colli deixou claro que apoiará a liberação do produto, caso fique comprovado que ele tem as propriedades anunciadas pela fabricante. Até o fim do ano, a CTNBio deve analisar o pedido de liberação da primeira soja transgênica brasileira, desenvolvida pela Embrapa.

Segundo Colli, ela seria mais resistente a herbicidas do que a natural.

- Será a primeira soja transgênica brasileira. Se o produto for bom, será positivo aprová-lo. Com isso, o Brasil pode fincar um pé no mercado chinês, hoje dominado pela Monsanto - disse.


Fonte: O Globo
 
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