Trigo - Grãos de baixa qualidade prejudicam safra de trigo
Data:
09/11/2009
O excesso de chuvas registrado na reta final da colheita de trigo do Paraná - fato que também prejudicou o desenvolvimento das lavouras gaúchas - resultou em um recorde nada animador: cerca de 2 milhões de toneladas do cereal deixarão de ir para a mesa dos brasileiros e serão destinados à fabricação de ração animal. O motivo é a baixa qualidade dos grãos, prejudicados pela umidade e ataque de doenças fúngicas, como a brusone.
O volume projetado representa 40% da produção total do País, estimada em cinco milhões de toneladas. Em safras normais, o montante de trigo destinado à ração não excede 10%. “Nesse ano teremos um número muito alto de cereal que não será industrializado e acredito que seja possível ultrapassar os 2 milhões de toneladas”, afirma o conselheiro da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo) Antenor Barros Leal. O dirigente confirma que desse total, 1 milhão de toneladas já foi desclassificada para moagem e que os números finais sobre o volume de trigo de baixa qualidade dependem da colheita do Rio Grande do Sul, que chega hoje a 22% do total e que está estimada em 1,4 milhão de toneladas.
O assistente técnico estadual em trigo da Emater-RS, Ataídes Jacobsen, diz que é muito cedo para estimar o quanto do total do cereal produzido no Estado deve ser destinado para ração. Caso os prejuízos se confirmem, os produtores terão perdas significativas em rentabilidade. “O trigo para ração se equivale ao preço do milho, ou seja, cerca de R$ 17,00 a saca de 60 quilos, enquanto que o trigo tipo brando chega a R$ 26,00 e o tipo pão a R$ 33,00”, detalha. Segundo ele, em safras normais o volume destinado para ração costuma oscilar entre 50 mil a 100 mil toneladas.
O presidente da Comissão de Trigo da Farsul, Hamilton Jardim, destaca que apesar das chuvas, a qualidade dos grãos produzidos no Estado surpreende positivamente. “A produtividade média se manteve em cerca de 1,8 mil quilos por hectare, em 850 mil hectares plantados.” Para suprir a demanda interna de 10 milhões de toneladas, a saída será importar em torno de 6 milhões de toneladas, a maior parte de países como Paraguai, Uruguai, Estados Unidos e Canadá, já que a Argentina apresentou forte queda na safra.
O país vizinho, que produziu 16,8 milhões de toneladas há dois anos, deve obter apenas 8 milhões em 2009. “Com o dólar baixo as exportações não devem impactar muito nos preços internos”, disse Leal. No entanto, em relação ao mercado interno, os produtores têm muito pouco a comemorar. “Faltam mecanismos de comercialização e o governo até agora só sinalizou com PEP, que só beneficia a indústria”, afirma Jardim. Os preços médios pagos pelo trigo no Estado chegam a R$ 21,00 a saca de 60 quilos.