A chuvosa primavera tem tirado o sono dos produtores rurais da Serra. E motivo não falta: os índices de chuva de novembro, que em Caxias do Sul já ultrapassaram em 161% a média do mês, tem devastado algumas culturas, empobrecido o solo e levado por água abaixo os tratamentos e herbicidas aplicados na produção. Agricultores estão preocupados com a possibilidade de perdas no campo e torcem para que o tempo melhore. Contudo, os especialistas antecipam: vem mais chuva por aí.
O mau tempo das últimas semanas já deixou marcas na produção agrícola. Com as ocorrências da semana passada, o interior da região de Vacaria foi bastante atingido, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Assalariados Rurais de Vacaria e Muitos Capões, Sérgio Poletto. Ele explica que ainda não há levantamento das perdas nos lugares atingidos pela chuva e pelo granizo. Porém, o que mais preocupa os agricultores é a previsão do tempo para os próximos dias.
A região de Vacaria, produtora principalmente de soja, trigo, milho e maçã, comercializou em 2008, pela Cooperativa Tritícola Mista Vacariense (Cooperval), 1,8 milhão de sacos de grãos. O presidente da cooperativa, Ângelo Pegoraro, esclarece que a chuva acomete cada cultura de diferente maneira. Segundo ele, o milho, que está praticamente todo plantado, se beneficia com as chuvas. Porém, a soja do cedo, que é plantada em seguida, está com o plantio atrasado, e o trigo, apesar de pronto, não pode ser colhido e isso pode prejudicar a comercialização.
— Em algumas regiões teve granizo na lavoura de trigo e se perdeu muito, mas a chuva ainda não causa grandes problemas porque grande parte do trigo ainda não está pronta. Ajuda se a chuva der uma trégua para acabar o plantio da soja e colher com qualidade o trigo — pondera.
Outra cultura que, apesar das intempéries, deve sofrer pouco é o pêssego chimarrita, que está em fase de colheita. O Rio Grande do Sul responde por 51% da safra nacional de pêssego. A previsão é de que sejam colhidas 60 mil toneladas da fruta até janeiro em todo o Estado.
Segundo Enio Angelo Todeschini, engenheiro agrônomo e assistente regional em fruticultura da Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Caxias, os produtores de uva, que tiveram um excelente inverno para a fruta, estão preocupados com a indefinição do tempo, já que as chuvas frequentes são catalisadoras de doenças.
— Estamos todo dia no campo com os produtores, eles estão muito apreensivos. Se o tempo firmar agora, ainda dá tempo de salvar boa parte da safra e evitar mais prejuízos.
A produção de mel também será prejudicada. O excesso de chuva dificulta o trabalho das abelhas.