Geral - Perdas na safra gaúcha podem superar 4 milhões de toneladas, estima Farsul
Data:
03/12/2009
A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) estima uma perda de cerca de 4,1 milhões de toneladas de grãos na safra 2009/2010, na comparação com a anterior, em função dos temporais que assolam o Estado. Ontem, durante entrevista coletiva de avaliação do ano de 2009 e projeções para o próximo ano, o presidente da Federação, Carlos Sperotto, afirmou que o prejuízo financeiro a preços atuais, incluindo também atividades como a pecuária leiteira, é calculado entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões.
Conforme dados apresentados, na safra 2008/2009, a colheita de grãos no Estado ficou em 22,6 milhões de toneladas. A previsão para o período seguinte é de 18,5 milhões de toneladas. Segundo o dirigente da Farsul, a maior parte das perdas ocorrerá no arroz, aproximadamente 3 milhões de toneladas. “A lavoura arrozeira encontra-se com dificuldade de conclusão. Apenas 732 mil hectares foram plantados e parte ficou alagada. Independente de prazo oficial para plantio ter sido ampliado para o dia 20 de dezembro, as águas não estão baixando”, afirmou. Com a chuva, faltam áreas aptas ao plantio do grão. Tradicionalmente, a área plantada supera 1 milhão de hectares. Também há dificuldade de plantio na soja, além de prejuízos para a colheita das culturas de trigo, azevém e aveia e prejuízos na pecuária.
Na oportunidade, como presidente do Conselho Administrativo do Senar-RS, Sperotto apresentou o balanço das atividades da entidade. Em 2009, a instituição treinou 66.044 pessoas em 4.630 oportunidades de educação profissional rural e de promoção social oferecidas em todo o Estado. Entre as atividades que geraram mais interesse estão as ligada ao setor agrossilvopastoril, pecuária e serviços. “Um dos destaques do ano foi o programa Alfa, que completou 10 anos, com 14.734 adultos no campo que foram alfabetizados”, registrou Sperotto. O programa recebeu o prêmio Top Cidadania da ABRH.
Para o próximo ano, a expectativa é de crescimento de 25%. Para isso, 80 novos técnicos serão cadastrados, totalizando 320 profissionais. A previsão é de que 25 novos cursos gratuitos nas áreas de promoção social e qualificação profissional sejam criados. O número de eventos deve superar os 5 mil em 2010.
Sperotto destacou ainda o desempenho da Casa Rural - Centro do Agronegócio em 2009. O valor total das operações deve atingir R$ 25 milhões no ano, um crescimento de aproximadamente 300% na comparação com o ano anterior. Para 2010, a projeção é de R$ 65 milhões em negócios.
Ao longo deste ano, o número de fornecedores foi ampliado de 53 para 60. “Estamos com a Casa Rural impulsionando negócios e fechando convênios significativos, como o que fizemos com a Kepler Weber para armazenagem”. Entre os produtos mais negociados no ano por meio do centro, que possibilita compra facilitada de insumos, estão óleo diesel (1,2 milhão de litros), herbicidas (128 mil litros), sal (275 mil toneladas) e principalmente fertilizantes (17,8 mil toneladas). Os dados referem-se a negócios até início de dezembro.
Carne - Para Sperotto, a pecuária gaúcha ainda sofre com as limitações de exportação de carnes à União Européia. Enquanto em 2006 o Estado atingiu cerca de 240 mil toneladas em embarques, neste ano esse número está em torno de 60 mil. Atualmente, apenas 1,7 mil propriedades brasileiras estão habilitadas para produzir animais destinados à produção de carnes para os europeus. “Seriam necessárias 20 mil propriedades habilitadas para exportação. Hoje, temos menos de 10% disso”, afirma Sperotto.
Além disso, Sperotto negou que a exportação de gado em pé esteja trazendo prejuízos à economia do Estado. O volume de animais embarcados até agora no ano está em torno de 20 mil cabeças, enquanto frigoríficos e pecuaristas de leite importaram 64 mil bovinos do Uruguai. “E o animal que entra do Uruguai normalmente é de maior qualidade do que o que sai do Estado”, informou.
Legislação ambiental - O presidente da Farsul aposta em um adiamento do prazo para averbação da área de Reserva Legal nas propriedades rurais, que se encerra dia 11 de dezembro, segundo definido em decreto. Sperotto salientou que a grande maioria dos produtores, especialmente os menores, não conseguiu se adequar. A solução do impasse poderia vir por medidas do executivo, já que não deve haver tempo hábil para definição de novas leis nos parlamentos federal e estadual. Sperotto ainda lembrou que o Brasil está em situação privilegiada em termos de manutenção de áreas verdes com relação a outros países. “A Europa tem só 0,3% de suas reservas florestais, enquanto o Brasil tem de 48% a 52%”.
Projeções de preços - Entre as principais culturas desenvolvidas no Estado, a soja deve apresentar melhores resultados no ano que vem, aposta Sperotto. “Não teremos preços estratosféricos, mas ainda haverá rentabilidade”, afirma. Sperotto lembra que a lavoura está sendo feita com o preço dos insumos lastreados em um dólar a R$ 1,90, enquanto a tendência é de que a moeda fique pelo menos estável nos patamares atuais, de R$ 1,70 - isso representa custos relativamente mais altos e comercialização relativamente menos em conta. Para o presidente da Farsul, o trigo é um dos produtos mais problemáticos no que se refere a rentabilidade. “O preço do pão é calculado com a tonelada do trigo cotada a US$ 750, mas o produtor recebe US$ 420. Apenas 8% do preço do pãozinho d’água fica com o produtor”, afirmou. Para Sperotto, deve haver política de comercialização que garanta o preço mínimo. “No feijão, esse preço é de R$ 80, a saca, mas o produtor recebe R$ 60”, exemplifica Sperotto.
Índices de produtividade - Sperotto reforçou a posição da Farsul de rejeitar em absoluto discussões sobre índices de produtividade agropecuária. “Estive em uma reunião com técnicos do USDA (o departamento de agricultura dos Estados Unidos) e, para provocar, perguntei quanto era o índice de produtividade lá. Eles não entenderam, eu expliquei. Deram risadas. Simplesmente não existem índices de produtividade lá”, contou.
Mercado internacional - A situação da Argentina e as exportações do agronegócio também estiveram na pauta da entrevista coletiva. Sperotto comentou as dificuldades que vive a agricultura do país vizinho, principalmente em razão das políticas públicas. Ele citou que produtores argentinos estão investindo no Brasil. Também lembrou que o agronegócio é o responsável pior manter a balança comercial brasileira superavitária.
Palanque Eleitoral - A Farsul deve reativar em 2010 o Palanque Eleitoral, atividade que abre espaço de diálogo entre candidatos e produtores rurais. Os encontros serão realizados em diferentes municípios, como já ocorreu em outros anos de eleição.