As indústrias de café querem mudar em 2010 uma realidade que perdura há tempos e pode ser melhor identificada desde a implantação do Plano Real: a baixa rentabilidade da atividade.
Enquanto a inflação da "era real" acumula valorização de 205,69%, sendo que o item alimentação teve uma alta acumulada de 200,52% no período, os preços do café tiveram um ganho total de 82,1%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Para tentar melhorar a rentabilidade, as empresas pretender estimular o consumo de produtos mais caros, oferecendo em troca cafés de melhor qualidade.
Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic) mostram que 95% do consumo total de café no país é concentrado na categoria "tradicional", que apresenta um preço médio da ordem de R$ 10,00 por quilo. Os outros 5% são divididos em partes mais ou menos iguais entre as categorias "superior" e "gourmet", que têm preços médios de R$ 16,00 e R$ 36,00 o quilo, respectivamente.
A meta da indústria brasileira é fazer com que o consumo dos cafés superiores fique com uma fatia entre 10% e 15% até 2015. Apenas com essa medida, o faturamento do setor com esta categoria poderia crescer quase oito vezes nos próximos cinco anos.
Para chegar ao objetivo traçado, a indústria vai iniciar em 2010 investidas em três frentes. A primeira delas é fazer com que a legislação adotada por alguns Estados aumente sua abrangência no que diz respeito ao consumo de cafés em órgãos públicos.
Segundo o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Espírito Santo - principais Estados produtores do país - possuem leis que exigem um café com padrão mínimo de qualidade para licitações em órgãos públicos.
"A Bahia também deve criar essa legislação. Os cafés consumidos nos Estados precisam ter uma classificação mínima de seis pontos ou mais, o que já entra na categoria superior", afirma Herszkowicz.
Outra estratégia de elevar o consumo de cafés superiores é trabalhar com mais proximidade junto ao setor hoteleiro para que pousadas e hotéis utilizem um produto de melhor qualidade.
Segundo Herszkowicz, a Abic iniciará em 2010 o treinamento dos funcionários desses estabelecimentos e funcionará como uma espécie de consultoria na aquisição de equipamentos.
Por fim, o varejo também está na mira das indústrias. Responsável por distribuir 65% do café consumido no Brasil, a ideia é que as redes aumentem o espaço dedicado aos cafés superiores.
Tanto esforço para elevar o consumo de um café de melhor qualidade no país, que já começou há alguns anos com diversas iniciativas, só é possível graças ao aumento da renda da classe C. Se por um lado a demanda pelo café tradicional aumentou nas classes D e E, por outro, a classe C, que sempre consumiu o produto básico, já dá sinais de que está disposta a pagar mais pela qualidade do café que consome.
Uma mostra desse cenário foi o próprio consumo geral de café em 2009. No início do ano, por conta da crise internacional, a expectativa do setor era de um crescimento tímido de 3% sobre as 17,2 milhões de sacas consumidas em 2008.
O desempenho em 2009, no entanto, deve resultar em um avanço entre 6% e 8%, crescimento acima das médias históricas do setor, o que elevará o consumo nacional para um volume de cerca de 18,5 milhões de sacas.
Para 2010, a expectativa é de que o ritmo de crescimento do consumo interno retorne para os padrões históricos, entre 4% e 5%. Com isso, a demanda das empresas para o Brasil seria de aproximadamente 19,5 milhões de sacas.
Em se mantendo esse ritmo, o consumo interno pode chegar em 2015 a cerca de 23 milhões de sacas, das quais 15% (3,5 milhões de sacas) serão de cafés superiores, 10% (2 milhões de sacas) de cafés gourmets e 75% (17,5 milhões de sacas) ainda ficarão com os produtos tradicionais.
Fonte: Valor Econômico Autor: Alexandre Inacio, de São Paulo