Geral - Pedro Parente vai presidir a revigorada Bunge Brasil
Data:
07/01/2010
Estratégia: Holding terá papel executivo e integrará as divisões do grupo
Fernando Lopes, de São Paulo
Está praticamente concluída a reestruturação administrativa que a Bunge vem promovendo em seus negócios no país e que se tornou perceptível nos últimos meses com a contratação de conhecidos executivos como Gilberto Tomazoni (ex-Sadia) e Paulo Diniz (ex-Cosan). Com as mudanças em curso, a holding Bunge Brasil, hoje pouco mais do que uma consolidadora contábil dos resultados das divisões Bunge Alimentos e Bunge Fertilizantes, será revigorada e passará a ter funções executivas. O Valor apurou que a holding será presidida por Pedro Parente, e que o ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso deverá assumir o cargo já nos próximos dias. Procurados, Bunge e Parente não confirmaram a informação.
Fontes do segmento afirmam que a reestruturação tornou-se necessária em virtude da ampliação do leque de negócios da multinacional no país, sobretudo a partir do início e da posterior ampliação dos investimentos no segmento sucroalcooleiro. Levantamento do Valor contabiliza aportes de pelo menos R$ 8 bilhões anunciados pelo grupo no Brasil desde o início de 2008. Do total, R$ 3,2 bilhões saíram da Bunge Fertilizantes - o valor inclui projetos da Fosfertil, na qual a Bunge é a maior acionista - e o restante da Bunge Alimentos, que, na estrutura atual, abraça os negócios de açúcar e álcool da companhia. O último investimento da lista, da ordem de US$ 1,5 bilhão, foi a compra das usinas pertencentes à paulista Moema Par, dona de uma usina e com participações em outras cinco unidades.
Em 2008, informa a página da Bunge na internet (www.bunge.com.br), seu faturamento consolidado alcançou R$ 31,7 bilhões. A companhia voltou a fechar 2008 como a principal exportadora do agronegócio do país e deve ter confirmado a liderança em 2009. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a novembro do ano passado as exportações da Bunge a partir do Brasil somaram US$ 4,254 bilhões, 10,02% menos que em igual intervalo do ano anterior. No ranking das maiores exportadoras do país, a Bunge perdeu apenas para Petrobras e Vale, que também sofreram com o câmbio e viram seus embarques renderem menos nos onze primeiros meses de 2008.
Analistas dizem que a guinada cambial e a queda de demanda e preços dos fertilizantes no Brasil deixaram suas marcas nos resultados da empresa no ano passado, gerando inclusive cortes de pessoal. O cenário para 2010 é positivo, mas uma gestão administrativa e financeira integrada, além de revisão de processos e aproveitamento de sinergias em áreas como suporte, comercial e logística, podem levar a um melhor aproveitamento da tendência de avanço do agronegócio brasileiro como um todo em 2010. A visão macroeconômica de Parente, que até dezembro era vice-presidente-executivo do grupo RBS, pesou bastante em sua escolha para o cargo de CEO e presidente da Bunge Brasil. Parente responderá ao CEO global da multi sediada em White Plains (Nova York), o brasileiro Alberto Weisser.
Para um executivo do setor que acompanha a Bunge de perto, a conjuntura adversa acelerou uma integração ensaiada há quase uma década. Quando assumiu a vice-presidência administrativa e financeira da companhia no Brasil, em abril do ano passado, Paulo Diniz, ex-vice presidente de finanças e relações com os investidores da Cosan, antecipou ao Valor o significado de sua contratação: "Do ponto de vista de negócios, a unificação das áreas administrativa e financeira dará maior velocidade à companhia para pensar em expansão. Do lado corporativo, permitirá maior otimização de processo e custos", afirmou ele na época.
Segundo um analista, a reestruturação da Bunge Brasil não deverá levar à abertura de seu capital na BM&FBovepsa. A empresa teve seus papéis negociados na Bovespa até 2005, quando decidiu manter as negociações de seus papéis concentradas em Nova York.