Geral - Retração de demanda afeta fundos agrícolas
Data:
07/01/2010
Receio de queda de consumo impactou preço de produtos como carne, milho e algodão e reduziu o retorno de investimentos
Por mais que a crise do sub-prime não tenha repetido a propagação de miséria causada pela crise de 1929, a estimativa de consumo alimentar foi revista e afetou diretamente o preço das commodities agrícolas em 2009. Exceção feita ao açúcar, o desempenho de grãos e carnes exibido na Bolsa de Mercadorias de Chicago e na BM & F Bovespa não animou e acabou impactando a rentabilidade dos fundos que investem nesses ativos.
No Brasil, o número de veículos dedicados às commodities agrícolas é reduzido e geralmente divide a carteira com ativos como ações, câmbio e derivativos. Entre as gestoras com maior tradição nesse segmento está a Sparta, cujas carteiras não são exclusivamente de matéria-prima agrícola, mas dois multi-mercados têm nelas o principal mote. Em 2009, o Sparta Cíclico registrou retorno de 14,2% e o Sparta Anticíclico, de 30,7%. Apesar da rentabilidade positiva e de ter batido a remuneração do CDI no período, foi o menor retorno gerado pelo Sparta Cíclico desde a criação do fundo, em 2005.
Em 2008, o retorno do fundo foi de 116,3% e em 2007 foi de 244,9%. "Mas em 2009 os movimentos de mercado não foram tão expressivos. Ganhamos em milho e boi e perdemos em açúcar e café", diz Ulisses Nehmi, gestor da Sparta.
Além disso, os fundos não elevaram exposição em ações, não acompanhando a alta da bolsa. Em commodities agrícolas, a gestora investe em boi gordo na BM&F e em café, açúcar e grãos em Chicago.Já o Guepardo Commodities30 FIM, da gestora Guepardo, fechou o ano com perda de 2,95%. Ainda que tenha conseguido avançar 5,6% no mês de dezembro, foi insuficiente para reverter as perdas acumuladas até novembro, quando mostrava desempenho negativo de 8,9%, contra retorno positivo de 9,09% do CDI no mesmo período.Segundo relatório da gestora, o mercado físico de boi gordo teve aumento de oferta em outubro e novembro, permitindo aos frigoríficos trabalharem com as escalas de abate alongadas. "O boi gordo teve recuperação momentânea no fim do ano, quando o consumo de carne é mais forte e os frigoríficos têm que cumprir os contratos de qualquer forma. Mas a exportação foi fraca no ano passado e não houve seca, então a oferta acabou acumulando o boi de pasto com o boi confinado", explica Caito Quagliato, operador de mesa agrícola da Gradual Corretora.
"Para este ano, a palavra-chave é exportação, também prejudicada pelo dólar fraco, que mantém a arroba acima de US$ 40, quando o preço razoável para exportação é de US$ 35", diz Quagliato. Conforme dados da Secex, o volume de exportação de carne bovina em dezembro caiu 0,9% em relação a novembro, apesar da alta de 0,4% em receita.
A BB DTVM também tem um fundo que investe em commodities agrícolas, lançado em 2009, mas através de uma estrutura mais complexa. O BB Multi-mercado Capital Protegido Commodities Agrícolas Private FI aplica recursos em operação estruturada de ativos financeiros e derivativos. O fundo termina em abril de 2011, quando seu rendimento será conhecido, mas o objetivo é que corresponda à média de oito retornos trimestrais do Índice Deutsche Bank Liquid Commodity Index (DBLCYEAG Index), que inclui trigo, milho, açúcar e soja.
"No início de ano, as gestoras reconstroem as carteiras e as commodities agrícolas podem ganhar espaço em virtude da expectativa de retomada de demanda mundial", diz Leonardo Menezes, consultor da Céleres.
Fonte: BRASIL ECONÔMICO Maria Luíza Filgueiras mfilgueiras@brasileconomico.com.br