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Geral - EUA vão ampliar subsídios para dobrar exportações em 5 anos
Data: 19/02/2010
 
Ofensiva serve para recuperar a economia norte-americana, mas Brasil pode ter mais dificuldade no acesso a mercados importantes, como o chinês e o russo.


Os Estados Unidos anunciaram ontem o que promete ser a maior ofensiva do país no comércio internacional do agronegócio. Em cinco anos, o governo norte-americano quer dobrar as exportações do setor, que devem alcançar US$ 100 bilhões neste ano. A meta foi apresentada na abertura do Agricultural Outlook Forum 2010, em Arlington, cidade nos arredores de Washington que tradicionalmente é sede do evento organizado pela Secretaria de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). Caso se concretize, ela ameaça o desempenho das exportações agrícolas do Brasil, que no ano passado atingiram US$ 64 bilhões. O Paraná, maior produtor nacional de grãos, também sentirá com força os efeitos do avanço da agricultura dos EUA.

“Essa é a hora de fortalecer o comércio global de commodities agrícolas”,
afirmou o analista do USDA Jim Miller, durante a cerimônia de abertura da conferência. “As estatísticas da agricultura norte-americana preocupam. A ‘América Rural’ representa apenas um sexto da população do país, mas é o setor que mantém a nação unida. Precisamos fortalecer o agronegócio através da abertura de novos mercados dentro e fora do país”, disse Tom Vilsack, secretário de Agricultura dos EUA. Sem maiores detalhes, o secretário deixou claro que para atingir a meta o país não deve medir esforços, inclusive com o aumento dos subsídios ao segmento.

Outra estratégia norte-americana para ampliar a participação no mercado mundial será intensificar os acordos bilaterais com os países onde cresce o consumo, como a China. Responsável por 54% do comércio global do complexo soja, o país asiático é a principal aposta norte-americana para alavancar as exportações do setor. Os chineses, vale lembrar, compram atualmente metade das exportações brasileiras do grão. Os EUA também querem participar do mercado de valor agregado. Um exemplo é a exportação de carne suína para Rússia, onde fatalmente fica estabelecida outra disputa com o Brasil.

Discurso diferente

A mudança no discurso em relação aos subsídios se justifica no esforço do governo pela recuperação econômica, abalada com a crise financeira deflagrada no segundo semestre de 2008. No ano passado o presidente Barack Obama tentou, sem sucesso, cortar progressivamente parte da ajuda do governo à agricultura. A proposta gerou polêmica e foi barrada no Congresso, onde o agronegócio sustenta um dos maiores lobbies. Agora, o novo posicionamento vai mexer com o mercado e com as relações internacionais, avaliam os analistas brasileiros que participam do Outlook 2010.

A ousadia preocupa o Brasil, que busca mais espaço para sua crescente produção. “Não vai ser fácil para os Estados Unidos dobrarem suas exportações. Não podemos subestimar a capacidade dos norte-americanos, mas é preciso considerar algumas variáveis para que isso possa ocorrer, como estrutura portuária, negociações internacionais e reciprocidade do mercado, além da reação dos outros países exportadores”, diz Thomé Guth, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que acompanha as discussões do fórum.

Marco Olívio Morato de Oliveira, analista de mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) que está no fórum, reforça que a estratégia dos Estados Unidos na busca de novos mercados vai explorar o tripé da sustentabilidade. “Eles estão se preparando e organizando a base desse processo, que passa pela recuperação do mercado, do produtor à exportação. O projeto é econômico, mas o apelo será o da produção sustentável”, alerta Morato de Oliveira.

O Agriculture Outlook Forum prossegue hoje com as discussões sobre a modernização da economia agrícola da China, o maior comprador mundial de soja.


Fonte: Gazeta do Povo
 
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