Soja - Baixa cotação e falta de chuva preocupam produtores de soja no RS
Data:
15/03/2010
Sojicultores aguardam bons resultados para conseguirem fechar as contas no azul neste ano.
Com as cotações em baixa e se aproximando do custo de produção, sojicultores gaúchos se amparam na perspectiva de uma boa produtividade para poder fechar as contas no azul este ano. A torcida é para que chova nas áreas cultivadas com atraso em razão do excesso de precipitações durante a primavera causada pelo El Niño e já afetadas pela falta de água.
Segundo a Emater, o preço médio da saca (60 quilos) no Rio Grande do Sul é de R$ 33,76, ante R$ 35,67 na semana anterior, enquanto o custo médio de produção calculado pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) ficou em R$ 32,47. Em simulação feita por Zero Hora, o valor obtido na negociação do produto aos preços atuais, mesmo com uma safra estimada em 23,6% acima do ciclo anterior, seria praticamente equivalente ao do ano agrícola passado (veja quadro).
Para o analista Flávio França Júnior, da Safras & Mercado, o cenário segue tendendo para baixo no curto prazo:
– Aqui no Rio Grande do Sul, a cotação está em torno de R$ 33, mas a colheita mal começou. Pela pressão da colheita, o preço no Estado deve cair – diz França.
No Planalto Médio, uma das zonas produtoras que mais sofreram com o atraso do plantio, já é possível notar o estresse hídrico das plantas, diz Claudio Doro, gerente regional adjunto da Emater de Passo Fundo. Segundo ele, 40% dos 680 mil hectares cultivados na região – cerca de um quinto da área total do Estado – foram plantados fora da época recomendada e estão agora na fase de enchimento de grãos, quando mais necessitam de água.
– A tão falada supersafra de soja não vai ocorrer. Será uma safra normal. Estamos com um déficit hídrico de cem milímetros – estima Doro.
A apreensão é dividida pelo presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Jorge Rodrigues.
– Com um preço abaixo de R$ 35, as margens já ficam no limite. Nesse caso, o produtor precisa uma boa produtividade, e o clima preocupa – diz Rodrigues.
O consultor técnico da Fecoagro Tarcísio Minetto explica que o cálculo do custo de produção leva em consideração uma utilização média de tecnologia e, para não ter prejuízo, o agricultor teria de produzir pelo menos 38,5 sacas por hectare.
*Colaborou Leandro Belles
O medo do retorno do fantasma da estiagem
O agricultor Claudino Nadal, 52 anos, anda com um olho na lavoura e outro no céu. Por ter semeado a soja no início de dezembro, em um período considerado tardio para o plantio da oleoginosa na região, deve colher na próxima semana a lavoura de 40 hectares localizada no interior de Passo Fundo. Além do clima, Nadal amarga o baixo preço pago pelo grão. No ano anterior, recebeu, em média, R$ 45 pela saca. Este ano, a saca está sendo vendida na região por um preço médio de R$ 35.
– Há uns 20 dias que não chove por aqui. Se não tiver nada de água nos próximos dias, vou ter uma queda significativa na produção, já que agora a soja está em uma fase crucial de desenvolvimento em que precisa de bastate umidade para crescer. Além disso, o preço está abaixo do esperado – reclama.
No ano passado, Nadal sofreu com a estiagem. A produção de soja por hectare ficou em 38 sacas. Na época, a falta de chuva foi a vilã do agricultor. Desta vez, novamente a escassez de água pode comprometer seus lucros. Com previsão de alcançar produtividade de até 50 sacas por hectare, acredita que terá de se contentar com pouco mais de 40 sacas colhidas em um hectare nesta safra.
De olho na safra norte-americana
Com a tendência de o preço da soja continuar baixo, a estratégia de comercialização pode ser a salvação da lavoura. Para Flávio França Junior, da Safras & Mercado, o agricultor que não tem compromissos urgentes pode optar por esperar algum repique nas cotações. Uma das possibilidades de sacudida no mercado é o relatório de intenção de plantio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos que sai no dia 31 deste mês. Segundo França, uma surpresa como um ganho superior ao esperado da área de milho sobre a soja nas lavouras norte-americanas poderia mexer com o preço.
Jorge Rodrigues, da Farsul, recomenda venda escalonada e evitar a especulação.