Geral - Mais dinheiro para plantio e comercialização da safra
Data:
25/03/2010
Com uma oferta quase 40% mais ampla do que no ciclo anterior, segundo previsão incluída no plano safra 2009/2010, a agricultura contratou um total de R$ 57,19 bilhões entre julho do ano passado e fevereiro deste ano. Embora o valor desembolsado no período tenha experimentado crescimento de 21,2% na comparação com os mesmos oito meses da safra 2008/2009, o resultado acumulado corresponde a 53% da programação estabelecida para financiar, o custeio das lavouras, a comercialização da colheita e os investimentos na safra que se encerra em junho.
Em valores nominais, o setor agrícola havia contratado financiamentos de R$ 47,2 bilhões, incluindo a agricultura empresarial e familiar, entre julho de 2008 e fevereiro de 2009, o que representou 60,5% do total planejado para aquela safra, ao redor de R$ 78 bilhões. A programação definida para a safra atual prevê desembolsos de R$ 108 bilhões, num avanço de 38,5% em relação ao período 2008/2009.
Desse total, em torno de R$ 66,2 bilhões estão previstos para custeio e comercialização e R$ 39,26 bilhões foram desembolsados nos últimos oito meses terminados em fevereiro, num crescimento de 14,5%. Foram cumpridos, no entanto, 59,3% da programação original, diante de uma fatia de 62,6% executados nos mesmos oito meses da safra 2008/2009. Restando quatro meses para o final da safra, o diretor do departamento de economia agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Wilson Vaz Araújo, acredita que será possível cumprir a meta. "Se não alcançarmos esses valores, vamos encerrar a safra com contratações bastante próximas do total programado."
Segundo ele, não haverá falta de recursos para financiar toda a demanda. Ao contrário, a oferta tem sido folgada em 2010, refletindo o avanço dos depósitos à vista, dos quais 29% devem ser destinados pelos bancos a empréstimos agrícolas, e das captações pela poupança rural, outra fonte de recursos obrigatórios para o setor. Nos 12 meses encerrados em janeiro, dado mais recente divulgado pelo Banco Central, o saldo médio diário dos depósitos à vista havia acumulado variação de 10,6%, atingindo R$ 135,09 bilhões. Da mesma forma, o saldo dos depósitos em poupança rural encerraram o ano passado com incremento de 19%, crescendo o equivalente a R$ 10,48 bilhões frente a dezembro de 2008, para R$ 65,47 bilhões. "Esses números asseguram a possibilidade de encerramos a safra com desembolsos superiores aos do ciclo 2008/2009", diz Vaz.
Cerca de 86% dos recursos destacados para a agricultura estão reservados para o segmento empresarial, que deverá receber R$ 93 bilhões, cerca de 43% mais do que a previsão que havia sido fixada para o ciclo anterior. Os restantes R$ 15 bilhões pela agricultura familiar, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), embutindo correção de 15%.
Até fevereiro deste ano, a agricultura empresarial recebeu R$ 49,30 bilhões ou 53% da meta programada, crescendo 21,7% frente aos primeiros oito meses da safra passada, conforme balanço mais recente divulgado pelo Mapa. "O desempenho corresponde ao que estávamos esperando e tem sido um pouco melhor do que em 2009, já que a economia não está mais em crise e o cenário corre dentro da normalidade esperada", aponta Vaz.
As operações contratadas a juros livres, que representam 17,3% do crédito para custeio e comercialização, têm apresentado desempenho mais vigoroso, acumulando avanço de 24,3% em relação à safra passada, passando de R$ 5,45 bilhões para R$ 6,78 bilhões. O aumento foi liderado pelas operações realizadas via Banco do Brasil, com recursos da poupança rural, com o setor agroindustrial. Estas saltaram 139% nesta safra, até o momento, atingindo R$ 2,14 bilhões. Os empréstimos a juros controlados, por sua vez, registraram incremento de 16,5%, para R$ 31,47 bilhões, representando pouco mais de 80% dos empréstimos para custeio e comercialização no setor agrícola empresarial.
Os recursos contratados e liberados para investimentos, levando-se em conta as linhas consolidadas para a agricultura, demonstram modesta variação de 2,9% na comparação com os primeiros oito meses da safra 2008/2009, saindo de R$ 6,22 bilhões para R$ 6,41 bilhões. Deve-se considerar, argumenta Vaz, que boa parte das operações anteriormente realizadas por meio do Moderfrota migraram para o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), criado no segundo semestre de 2009 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estimular investimentos na economia e enfrentar os efeitos da crise mundial. Desde julho de 2009 até fevereiro deste ano, produtores rurais tomaram R$ 2,65 bilhões nessa linha.
No caso do Pronaf, que terá 14% do crédito rural total, os desembolsos cresceram 17,7%, para R$ 7,88 bilhões, representando 52,6% da previsão. Até o fim da safra, a perspectiva de executar quase todo o volume para o período. "A questão principal é programar as fontes de recursos para que não falte crédito ao longo da safra. O Pronaf saiu de R$ 2,2 bilhões e 900 mil contratos em 2003 para 2,2 milhões de contratos e R$ 11 bilhões desembolsados na safra 2008/2009, diante de R$ 13 bilhões anunciados", diz Adoniram Sanches Peraci, secretário Nacional de Agricultura Familiar.
Sanches aponta a ampliação do total de contratos e, portanto, da capacidade de cobertura e de penetração no meio rural como principais objetivos do programa. Daqui para frente, prossegue o secretário, "vamos cada vez mais entrar nos bolsões excluídos do crédito rural". Diante de um total estimado em 4,4 milhões de pequenos agricultores familiares, acrescenta ele, "o modelo escolhido pelo sistema no passado deixou muita gente para trás". Os esforços para expansão do Pronaf incluirão regiões como o sul do Rio Grande do Sul, os vales do Ribeira e do Jequitinhonha, parte importante do Nordeste e "manchas no Norte do país", na descrição do secretário.