The Wall Street Journal, de Denver - Produtores rurais e pecuaristas americanos estão se preparando para uma infestação de gafanhotos que pode devastar milhões de hectares de plantações e pasto.
Nas próximas semanas, dizem autoridades federais americanas, os gafanhotos devem se reproduzir em número maior do que em qualquer ano desde 1985. Nuvens famintas causaram centenas de milhões de dólares em danos naquele ano, quando devoraram milho, cevada, alfafa, beterraba - até mesmo as estacas das cercas e a pintura externa dos celeiros.
Um levantamento em 17 Estados americanos no fim do ano passado descobriu números criticamente altos de gafanhotos adultos em partes de Wyoming, Montana, Nebraska, South Dakota e Idaho. Cada fêmea adulta bota centenas de ovos. Assim, "a população pode ser muito, muito alta este ano", disse Charles Brown, que gerencia o combate aos gafanhotos para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Ryan Fieldgrove está assustado com essa chegada. Pecuarista da região de Buffalo, no Estado do Wyoming, ele estava tendo um ano ótimo em 2009, quando, aparentemente saindo do nada, um tapete de gafanhotos marchou sobre seu pasto - um prenúncio da infestação deste ano. Em três semanas, eles comeram cada uma das folhas de capim macio e nutritivo de seus 4.000 hectares. Comeram também os arbustos de lilás da mulher dele. "Tomaram tudo", disse Fieldgrove.
Sem conseguir encontrar capim suficiente, os 200 novilhos de Fieldgrove começaram a perder peso. Ele acabou por vendê-los num leilão várias semanas antes - e cerca de 27 quilos mais leves - do que o planejado. E teve de importar feno para alimentar as vacas reprodutoras que mantém na fazenda no inverno.
Os gafanhotos custaram a Fieldgrove cerca de US$ 30.000 em lucro perdido, diz ele - e autoridades agrícolas locais já o alertaram que pode ser pior este ano.
Gafanhotos, que costumam ser encontrados no oeste dos EUA em densidades de mais de dez insetos adultos por metro quadrado, são uma parte saudável do ecossistema - e alimento para certos pássaros. Mas no semestre passado, pesquisas encontraram quase 20 por metro quadrado em alguns lugares, e a expectativa é que o número cresça no verão, a partir de junho no Hemisfério Norte. Zonas de infestação podem atingir três vezes essa densidade - uma população tão grande que eles infestam a superfície de carros que passam por perto, cobrem estradas como um tapete e formam uma camada grossa sobre gramados.
Para tentar se antecipar ao problema, Wyoming alocou US$ 2,7 milhões para os esforços de erradicação, que incluem a aplicação aérea do pesticida Dimilin, que é fatal para os gafanhotos em amadurecimento. Mas a delegação de Wyoming no Congresso - receosa de que isso não seja o bastante - pediu ajuda federal. "Não parece que o USDA tenha qualquer senso de urgência em face dessa praga iminente", escreveu a delegação em carta ao secretário de Agricultura, Tom Vilsack, no mês passado.
O governador de Wyoming, Dave Freudenthal, também entrou na briga este mês, escrevendo uma carta aberta em que conclama as autoridades municipais, estaduais e federais a juntar forças para evitar um "dano econômico e ecológico". A previsão, disse, sugere uma infestação "com implicações desastrosas".
Brown, do USDA, disse que o departamento está a par da gravidade do problema, mas que já usou quase todo o orçamento de US$ 5,6 milhões para o controle de gafanhotos no fim de 2009 na contagem da população desse inseto, e não tem dinheiro para aplicar inseticida em vastas áreas de pastagens e campo que pertencem ao governo federal. Ele disse que o departamento está examinando maneiras de obter mais recursos.
Se a infestação atingir o nível de 1985, segundo ele, os esforços do governo americano para supressão podem custar US$ 40 milhões.
Os proprietários de terra também podem acabar com uma conta cara a pagar. Alguns já encomendaram a aplicação aérea de inseticidas, a um custo de cerca de US$ 25 por hectare, sobre terras que consideram mais vulneráveis.
Eles também têm esperanças de que a mãe natureza ajude. Uma onda de frio e umidade no fim de maio ou em junho pode eliminar boa parte dos filhotes de gafanhoto, conhecidos como saltões. Mas se o tempo for quente e seco, "não creio que produziremos uma safra nesta parte do país", disse Pete Lumsden, um produtor de Loring, em Montana.
Os gafanhotos se alimentam com voracidade, comendo em folhagem cerca de metade do peso de seu corpo por dia.
As infestações de gafanhotos tendem a ser cíclicas; os números sobem rapidamente por dois ou três anos, e depois caem de volta ao normal quando os insetos não têm mais o que comer ou uma doença se espalha pelas nuvens de gafanhotos. O ano passado foi relativamente ruim para vários Estados do oeste americano, por isso o verão deste ano pode representar um pico, depois do qual os números devem cair, dizem entomologistas.
Isso não chega a dar muito conforto a Lumsden, que espera colher 890 hectares de trigo e cevada este ano - se os gafanhotos não o fizerem primeiro. "É tão vulnerável", disse ele.