Arroz - Elevação dos preços se sustenta na baixa oferta e quebra de safra
Data:
26/04/2010
Quebra de safra e baixa oferta no Rio Grande do Sul mantém preços do arroz com tendência de alta na última semana de abril. Cepea/Esalq indica preços superiores a R$ 28,50 para a saca do produto em casca no RS.
Confirmando um cenário atípico de comercialização em pleno final de colheita, o mês de abril deverá manter a trajetória de alta nessa última semana. O preço ascendente reflete a conjuntura interna, com a quebra de safra em torno de 1 milhão de toneladas se confirmando no Rio Grande do Sul, e a baixa oferta de produto por parte dos arrozeiros. Os estoques da indústria gaúcha estão bastante ajustados, em razão da limpeza dos estoques provocadas pelo atraso e alongamento da safra, o que fomenta essa tendência de preços um pouco maiores nessa semana final de abril, bem como a busca de arroz branco no Uruguai, principalmente.
São Paulo tem optado por produto argentino e paraguaio, que entra por Foz do Iguaçu, no Paraná, a preços bastante competitivos com o produto gaúcho e catarinense, e qualidade muito boa. As indústrias com centros de distribuição ou plantas no Nordeste já avaliam a compra de produto vietnamita, com preços bastante competitivos. A qualidade do produto, no entanto, ainda deixa a desejar diante do arroz brasileiro e do Mercosul. Com as novas regras de classificação, que impedem mais de 7,5% de quebrados no Tipo 1, e outras regras sobre impurezas que desclassificam o produto, são fatores de preocupação nas importações da Ásia. Experiências passadas indicam aproveitamento para “mix” ou mistura de grãos asiáticos na formação de tipos 2, 3, 4 e até AP.
Além disso, a reação do setor de produção que já encaminhou documentação ao governo federal solicitando a elevação da Tarifa Externa Comum do arroz de 12% para até 30%, poderá dificultar a entrada de produto de terceiros países. Hoje, o arroz do Vietnã já tem patamar de preços que viabiliza a entrada no Nordeste, o tailandês e o norte-americano estão muito próximos e o Mercosul pratica preços extremamente atraentes. A estimativa de importação de 1,2 milhão de toneladas para o ano comercial, determinaria a possibilidade de o Brasil importar cerca de 200 mil toneladas de terceiros mercados. Um milhão ficaria por conta da entrada direta do Mercosul. O câmbio, com o Real valorizado, favorece às compras externas e inviabiliza a venda.
Países como o Uruguai têm um custo de 10 a 12 dólares para colocar o fardo de arroz beneficiado em São Paulo. Com os contratos dos países do Mercosul “micando” com o Oriente Médio (principalmente Irã e Iraque), em razão da mudança da estrutura de compras desses países, o Brasil torna-se um mercado extremamente atraente e, em alguns momentos, a única opção. Ainda assim, Uruguai e Argentina sabem, por experiência própria, que não é um bom negócio concentrar os negócios num País que a qualquer momento pode alterar este cenário, seja pela mudança do câmbio, seja pelo aumento produtivo na próxima safra, com um alto estoque remanescente, que afetaria toda a comercialização e rentabilidade do mercado de todo o bloco.
MECANISMOS
Na última semana a Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), fez evoluírem as negociações para liberação de recursos e mecanismos de comercialização para o cereal. A expectativa é da liberação de recursos para garantir e equalização da oferta, já em maio, por meio de contratos de opção e PEP Exportação. Com essas medidas, o governo federal estaria socorrendo os produtores e as indústrias, garantindo a redução do fluxo de oferta que alguns especialistas apostam que será concentrada entre maio e julho. Os contratos de opção teriam vencimento (e execução) a partir de meados de outubro, com padrões similares aos de 2009.
Um anúncio formal desses mecanismos para a primeira semana de maio, como vem sendo articulado, poderia sustentar o mercado acima dos atuais preços de referência por mais algumas semanas, se acompanhados da alteração na TEC.
PREÇOS
Diante de um cenário de baixa comercialização interna, indústrias com estoques bastante reduzidos, importações do Mercosul e muitas sondagens de terceiros mercados, os preços no Rio Grande do Sul continuaram a trajetória de alta na última semana. Nesta sexta-feira (23/4), as cotações alcançaram R$ 28,54 para a saca de arroz de 50 quilos (58x10) colocada na indústria gaúcha, segundo o indicador de arroz em casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias (BVMF). A alta acumulada em abril é de 5,76%. Nessa data, a cotação da saca de arroz em casca bateu na casa de US$ 16,21/50kg. A alta é de 6,96%.
A média de preços da semana (19/4 a 23/4) ficou em R$ 28,35 no Rio Grande do Sul, segundo o indicador. A valorização foi de 1,54%, dentro da mesma média semanal de evolução de abril. A média semanal, na equivalência em dólar, é de US$ 16,13.
No mercado livre gaúcho as cotações variaram entre R$ 28,00 e R$ 29,00 nas principais praças de comercialização. Exceção é o Litoral Norte que, pela qualidade do produto vem comercializando as variedades nobres na faixa de R$ 31,00 a R$ 32,50. Em Santa Catarina, houve uma ligeira valorização no Sul do Estado, em razão de uma projeção de quebra de até 15% na reta final de colheita. Segundo as cooperativas do Sul catarinense, as temperaturas muito elevadas no período de floração causaram a esterilidade de plantas e o volume de “grãos falhados” supreendeu. No estado já se estima uma perda entre 70 e 100 mil toneladas, o que corresponde a cerca de 8% da safra.
No Mato Grosso as cotações estão mantidas entre R$ 27,00 e R$ 29,00 nas principais praças. Apesar da boa qualidade da safra, com grãos que superam 60% de inteiros muito facilmente, a queda nos preços se deve à rápida transferência do grão das mãos dos agricultores para a indústria. A falta de estrutura de armazenagem e o alto custo do frete, pela disputa dos caminhões com a soja, desfavorecem o produtor na hora da comercialização pós-safra, naquele estado.
SAFRA
A safra gaúcha encontra-se com cerca de 80% da área colhida, segundo números do Irga. A evolução não foi a esperada na semana que passou em razão das chuvas que voltaram ao estado. Em Santa Catarina, onde a área colhida já margeia 95%, as chuvas também atrapalharam as operações finais da safra.
MERCADO
A Corretora Mercado, de Porto Alegre (RS) indica no mercado livre gaúcho a saca de arroz em casca de 50 quilos cotada a R$ 28,80. O beneficiado, em sacas de 60 quilos (tipo 1) alcançou R$ 56,00. Entre os derivados, preços mantidos: o canjicão é cotado a R$ 26,00, a quirera a R$ 19,00 e a tonelada de farelo de arroz vale R$ 240,00.