Governo leiloa neste mês parte de seus estoques para conter alta dos preços. Desde o início do ano, cotação do carioca mais que dobrou no Paraná. Preços ao consumidor estão 41% mais altos
Enquanto os produtores de feijão tentam se organizar para disciplinar o mercado e valorizar as cotações levando as negociações para a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), o governo federal elegeu o alimento como um dos maiores vilões da cesta básica e planeja medidas para conter a inflação. Para segurar os preços no campo e aliviar a pressão no bolso do consumidor, o governo vai vender parte dos estoques públicos do grão.
De acordo com o superintendente de Operações Comerciais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), João Paulo Moraes Filho, os leilões irão começar neste mês e devem colocar no mercado até 40 mil toneladas do grão. Desovando cerca de 20% de seus estoques, a estatal espera conter a alta de preços ao consumidor sem prejudicar a renda do produtor. "Temos que olhar os dois lados do mercado. Hoje o produtor tem um preço melhor e se sente estimulado a produzir, mas o consumidor tem um preço final alto. A questão não é baixar o preço, mas, pelo menos, estabilizá-lo", declara Moraes Filho.
No mês passado, o feijão carioca foi um dos itens que mais pressionou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. O preço do produto, que vinha de uma queda de 1,87% em março, teve aumento de 30,10% em abril, conforme prévia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na capital paranaense, o quilo do carioca já subiu 41% e o do preto aumentou 32% desde o início do ano, de acordo com o serviço Disque Economia da Prefeitura de Curitiba. Os consumidores curitibanos estão pagando em média R$ 2,52 pelo quilo do produto (média carioca e preto). O quilo do carioquinha chega a custar até R$ 4,95.
O aumento dos preços nas gôndolas dos supermercados acompanhou a disparada das cotações ao produtor. Desde o início do ano, o preço do preto subiu quase 50% e a cotação do carioca mais que dobrou no Paraná. O primeiro saltou de R$ 50 no fim do ano passado para cerca de R$ 80. O segundo, que no final de 2009 valia R$ 55, hoje ultrapassa os R$ 110, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab).
Segundo analistas, será difícil o governo conseguir conter a tendência de alta do produto. "O mercado deve continuar valorizado até julho, quando entra a terceira safra. Até lá, a oferta será pequena, mesmo que o governo venda seus estoques", prevê Sandra Shetzel, analista da Unifeijão. [...], os leilões da Conab irão, no máximo, estabilizar os preços. "A qualidade desse feijão do governo é inferior à exigida pelo mercado. Se for aceito, terá um destino específico, que é a população de baixa renda. Mas de qualquer maneira não vai competir com a mercadoria extra", diz.
Sandra concorda com a avaliação. "Se os leilões de venda tiverem algum efeito sobre o mercado será psicológico, estabilizando momentaneamente as cotações. Primeiro porque os estoques são pequenos. Segundo porque é feijão do ano passado, de qualidade, mas que perdeu a cor. Acredito mais na pressão do varejo do que no poder do governo de regular o mercado", defende.
O produto que será leiloado pela Conab foi adquirido pelo governo em operações de Aquisição do Governo Federal (AGF) e de Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF) durante o ano passado. No total, a estatal colocou em seus armazéns 178 mil toneladas de feijão (81% carioca e 19% preto). A maior parte foi comprada no Paraná, que hoje tem pouco mais de 67 mil toneladas (38% do total) em estoque.
"Mas nem tudo isso será vendido. Até porque boa parte já está comprometida com programas sociais", ressalta o superintendente de Operações Comerciais da Conab. Segundo ele, o governo teria à disposição cerca de 25 mil toneladas de feijão no Paraná e aproximadamente 40 mil no Brasil.