Trigo - Bem estocados, moinhos admitem alta da TEC
Data:
02/06/2010
Com armazéns bem supridos e a três meses do início da colheita de trigo no Brasil, os moinhos nacionais não mostram grande resistência ao aumento da Tarifa Externa Comum (TEC) na importação do cereal. Em avaliação pelo governo, a tarifa pode subir de 10% para 35% nos próximos dias.
Apesar de reconhecer que pode trazer alguma alta no custo de aquisição da matéria-prima, Lawrence Pih, dono do maior moinho da América Latina e conselheiro da Associação Brasileiro da Indústria do Trigo (Abitrigo), afirma que a decisão mostra racionalidade econômica por parte do governo, sobretudo na política de reduzir gastos com subsídio à comercialização do cereal - que nesta última safra supera meio bilhão de reais somente para esta cultura. É também, segundo Pih, uma forma de resolver a situação dos cerca de 2 milhões de toneladas do cereal ainda "encalhadas" no país - a maior parte de baixa qualidade.
Neste ano, o Brasil exportou, com ajuda de subsídios governamentais, cerca de 1,3 milhão de toneladas de cereal de baixa qualidade para uso como ração em outros países. Há ainda potencial para que sejam embarcados quase todo o estoque atualmente encalhado, caso o governo libere mais recursos para comercialização. "Em aumentando a TEC, o governo vai arrecadar mais o que abre perspectiva para ampliar o subsídio e resolver a situação desse volume estagnado", diz Pih, lembrando que outras 5 milhões de toneladas da safra nacional devem começar a ser colhidas em setembro.
O aumento da TEC, segundo o conselheiro da Abitrigo, pode ser feito sem grandes impactos à inflação, ainda que haja aumento no custo do moinho com aquisição do cereal. "A farinha de trigo representa 20% do custo do pãozinho. Mesmo que as indústrias repassem algum aumento, o impacto na alta geral de preços será irrisório".
Pih também acredita que uma outra medida que pode ser tomada pelo governo é a redução do preço mínimo, atualmente em R$ 530. "A disparidade entre este valor mínimo e a realidade do mercado internacional está muito grande", diz o empresário.
Atualmente, calcula ele, uma tonelada do produto posto em São Paulo vale US$ 335. Trazendo essa mesma tonelada dos Estados Unidos, com frete, TEC e imposto da Marinha Mercante, esse valor é de US$ 287. "Com a TEC a 35% , o cereal americano perde competitividade e chega no Brasil a US$ 343".
Obviamente, a Federação da Agricultura do Paraná (Faep), estado que lidera a produção de trigo no país, aguarda com ansiedade a aprovação da TEC à 35%. O pleito de elevar, pelo menos, a 30% é antigo, segundo Pedro Loyola, economista da Faep. É uma maneira "oxigenar" a comercialização do trigo nacional, que está estagnada há alguns meses, na avaliação dele.
"O Paraná tem 500 mil toneladas do cereal sem comercialização, dos quais 150 mil da boa safra de 2008. Esta sobra se deve em grande parte à falta de salvaguarda da produção nacional que é prejudicada pela entrada do trigo subsidiado do Hemisfério Norte", diz Loyola. É preciso, na avaliação do representante da Faep, que a entrada de trigo estrangeiro somente ocorra depois que a produção nacional for toda comercializada.